A Rússia ajudou o Irã a construir uma arma hipersônica?
Teerã diz que desenvolveu um míssil hipersônico, mas há razões para duvidar da alegação bombástica
por Gabriel Honrada
12.11.2022
O Irã parece ter desenvolvido arma hipersônica usando tecnologia russa adquirida em troca de armamento que forneceu para a guerra de Moscou na Ucrânia, um quid pro quo militar que, se verdadeiro, levantará antenas nos EUA e entre seus aliados estratégicos.
Neste novembro/2022, a agência de notícias semioficial iraniana Tasnim informou que o Irã havia construído uma arma hipersônica capaz de escapar às defesas e atingir sistemas avançados de defesa aérea inimiga.
De acordo com o general Amir Ali Hajizadeh, do Corpo da Guarda Revolucionária do Irã (IRGC), a arma hipersônica do Irã representa um salto significativo para seu programa de mísseis. Ele afirmou corajosamente que a nova arma pode manobrar dentro e fora da atmosfera, pode penetrar em todos os sistemas de defesa antimísseis conhecidos e que os adversários não serão capazes de desenvolver contramedidas suficientes por décadas.
No entanto, a Reuters [ainda que não possa ser reconhecida como fonte imparcial de informações]NR-JF menciona que não há relatos conhecidos de que o Irã já tenha testado uma arma hipersônica e que, embora tenha uma vasta indústria doméstica de armas, a República Islâmica é conhecida por exagerar suas capacidades militares.
Um caso desse exagero é o caça furtivo Qaher-313 do Irã, que analistas ocidentais em grande parte descartaram como falso.
Escrevendo para o The Aviationist, David Cenciotti identifica vários brindes que mostram que o Qaher-313 do Irã é apenas uma grande maquete, incluindo seus instrumentos de voo muito básicos, falta de fiação da cabine do piloto, uma seção do nariz muito pequena para caber em qualquer radar, entradas de ar extremamente pequenas e que a falta de um bocal do motor que poderia fazer com que o pós-combustão derretesse o avião.
Cenciotti também observa que, mesmo que o Irã divulgasse imagens de vídeo do Qaher-313 em voo, parece ser um modelo em escala controlado remotamente e que, se o jato realmente voasse, o Irã teria divulgado imagens de sua decolagem e pouso.
Os observadores internacionais devem, portanto, aceitar com ceticismo as alegações do Irã de ter desenvolvido uma arma hipersônica. A despeito disso, o Irã continua a construir um enorme arsenal de mísseis e o desenvolvimento de uma arma hipersônica pode estar dentro de suas prioridades e capacidades.
Em um relatório de abril de 2017, J. Matthew McInnis diz que a força de mísseis balísticos do Irã é o núcleo de sua estratégia de dissuasão e que nenhuma parte do complexo industrial de defesa do Irã teve tanto investimento ou foco.
McInnis também observa que a China, a Coreia do Norte e a Rússia têm ajudado o Irã com seu programa de mísseis e pode estar tentando desenvolver mísseis balísticos intercontinentais (ICBM).
No entanto, McInnis diz que o Irã ainda luta para tornar seus mísseis precisos o suficiente para uso ofensivo, já que não consegue desenvolver um pacote adequado de estabilização e orientação de precisão para suas forças de mísseis.
O Irã pode, portanto, ter solicitado um quid pro quo em sua parceria estratégica com a Rússia, trocando assistência de material militar por know-how nuclear hipersônico e técnico.
Em julho deste ano, o Asia Times informou sobre os planos iniciais da Rússia de adquirir drones do Irã. Este movimento foi provavelmente impulsionado pela necessidade de substituir rapidamente as perdas de batalha, a falta de drones avançados e limitações na própria indústria de drones da Rússia.
Além disso, o conhecimento substancial do Irã sobre a tecnologia de drones e a rede bem estabelecida para evitar sanções contra componentes de armas podem ter dado à Rússia incentivo extra para adquirir drones do Irã.
Além dos drones, o Asia Times informou em agosto sobre o lançamento do satélite de imagem Khayyam, nativo do Irã, que pode ser, de fato, um satélite russo Kanopus-V com câmeras de imagem de alta resolução. A Rússia também pode tentar usar o Khayyam para monitorar a atividade militar ucraniana e detectar alvos, uma possibilidade que o Irã negou veementemente.
A guerra da Ucrânia, no entanto, destacou as deficiências dos satélites militares da Rússia. Em um artigo de maio de 2022 para a The Jamestown Foundation, Pavel Luzin observa que, embora a Rússia tenha 102 satélites militares em órbita, não conseguiu eliminar a infraestrutura militar, a aviação e as instalações de defesa aérea da Ucrânia devido à escassez de satélites de radar de abertura óptica e sintética abertos e à falta de satélites e terminais de comunicação.
Portanto, é plausível que a Rússia possa veja o Irã como complementar às suas capacidades de satélite. Além disso, o Irã pode estar fornecendo à Rússia mísseis balísticos para reabastecer os estoques esgotados desta última.
Em outubro deste ano, o Asia Times informou que o Irã está planejando enviar sua primeira remessa de mísseis balísticos de curto alcance Fateh-110 e Zolfaghar (SRBM) à Rússia, cujo arsenal de mísseis foi amplamente despendido na Ucrânia e é duramente pressionado a substituir munições caras devido à sua surpreendente dependência de microchips fabricados no Ocidente agora bloqueados por sanções.
Embora a Rússia tenha tomado medidas para reabastecer seus estoques de mísseis cada vez menores, pode ser necessário se mover mais rapidamente, dependendo do curso da guerra.
Dada a assistência substancial que o Irã deu à Rússia para a guerra da Ucrânia, Teerã pode estar pedindo favores da Rússia para ajudar em suas armas hipersônicas e programas nucleares.
No livro Repairing the Regime: Preventing the Spread of Weapons of Mass Destruction, Robert Galluci observa que a assistência russa foi fundamental para encurtar o tempo que o Irã foi capaz de desenvolver, fabricar e implantar mísseis balísticos de médio alcance (MRBM), com presumivelmente algumas melhorias qualitativas.
Galluci mencionou que a assistência russa poderia permitir que o Irã progredisse na fabricação de mísseis balísticos de alcance intermediário (IRBM) ou mesmo ICBMs. No mesmo livro, Robbie Sahel observou que o Irã precisa de tecnologia russa de motor de foguete para construir mísseis de longo alcance e que empresas e entidades russas ajudaram o projeto de desenvolvimento de mísseis do Irã, com implicações para o desenvolvimento de armas hipersônicas.
Em termos do programa nuclear do Irã, neste novembro/2022 a CNN informou que as autoridades de inteligência dos EUA acreditam que o Irã tem pedido ajuda à Rússia para adquirir material nuclear adicional e fabricação de combustível nuclear para alimentar seus reatores e encurtar seu tempo de fuga para criar uma arma nuclear.
Embora a fonte mencione que o risco de proliferação nuclear depende de qual reator o combustível é usado, não está claro se a Rússia decidiu ajudar, como tem sido, pelo menos na superfície, contra o Irã obter uma arma nuclear.
Se comprovada, a assistência da Rússia ajudará o Irã a alcançar uma estratégia de latência nuclear, que busca obter as capacidades necessárias para montar uma arma nuclear em curto prazo. Nessa estratégia, o Irã pode tecnicamente alegar que não possui armas nucleares, mas tem a tecnologia, os recursos, os materiais e os sistemas de entrega para montá-los rapidamente se e quando necessário.
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