Argentina: milhares realizam marcha em apoio a Cristina Kirchner
Milhares de argentino marcharam noe sábado, 27.08, na Argentina para manifestar apoio à vice-presidente Cristina Kirchner. Esta semana, o Ministério Público argentino pediu sua condenação a 12 anos de prisão em processo criticado como mais um episódio de lawfare — perseguição judicial — contra líderes de esquerda.
Segundo a agência Télam, marchas foram realizados por todo o país para demonstrar apoio à ex-presidente, mas foi na capital Buenos Aires que a situação se agravou. O portal C5N classificou as marchas como "históricas".
O governador da capital, Horácio Rodríguez Larreta, mandou instalar barreiras nas proximidades da residência de Cristina, o que foi visto pelos peronistas como uma tentativa de desmobilizar os atos e provocação à vice-presidente
"Hoje acordei com a esquina da minha casa literalmente sitiada. As cercas colocadas pelo Sr. Larreta [...] querem proibir manifestações absolutamente pacíficas e alegres de amor e apoio, que acontecem diante da já inegável perseguição do partido judicial",
disse Cristina em nota.
"A lógica do Sr. Larreta é a mesma lógica do partido judicial. Para macristas: cuidado e proteção. Para os peronistas: cercas, infantaria da polícia da cidade e até paus, gás lacrimogêneo e spray de pimenta como segunda à noite. O que foi dito naquele dia à noite: eles nunca foram e nunca serão democráticos",
completou.
Larreta é aliado do ex-presidente Maurício Macri, faz oposição ao governo de Alberto Fernández e é um dos potenciais candidatos para disputar as eleições presidenciais de 2023 pelo campo oposicionista.
A polícia da cidade reprimiu manifestantes com jatos d'água, gás lacrimogênio e golpes de cassetete. Um jornalista, Ezequiel Guazzora, foi agredido pelas forças policiais e parlamentares kirchneristas foram detidos. Peronistas denunciaram ainda que agentes da cidade estariam filmando manifestantes.
O presidente Alberto Fernández criticou o governador portenho e exigiu que sejam cessadas as provocações contra a vice-presidente.
"É imprescindível que o assédio à vice-presidente Cristina Kirchner cesse e que se garanta o direito de livre expressão e manifestação dos cidadãos",
escreveu no Twitter.
Apoio Internacional
Presidentes de quatro países latino-americanos divulgaram um manifesto na 4ª feira, 24.08, em defesa de Cristina. Andrés Manuel López Obrador (México), Luis Arce (Bolívia), Gustavo Petro (Colômbia) e Alberto Fernández (Argentina), assinaram um documento conjunto em que condenam "estratégias de perseguição judicial para eliminar opositores políticos”.
Os chefes de Estado afirmam que o objetivo desta “perseguição” é afastar a vice-presidente da “vida pública, política e eleitoral, bem como enterrar os valores e ideais que ela representa, com o objetivo final de implantar uma modelo neoliberal”.
O sociólogo Javier Calderón, disse à rádio Telescópio, da Sputnik, que "atacar Cristina Fernández tem o objetivo de limitar seu potencial eleitoral diante das próximas eleições, mas também busca disciplinar o governo para que se sintam impedidos de seguir as decisões dela durante esse um ano e meio que resta de gestão".
"Eles tentam tirar peso das opiniões da vice-presidente, tentam silenciá-la e que suas declarações não têm o eco que têm na sociedade argentina. Isso é muito perigoso e delicado",
destacou.
"Estamos diante da renovação da perseguição judicial ou guerra judicial na América Latina, algo preocupante. Vimos isso com Lula no Brasil e sua proibição de ser candidato presidencial, o que deu a Jair Bolsonaro a possibilidade de chegar ao governo",
assegurou.
Denúncia do Ministério Público
O Ministério Público da Argentina solicitou, na 2ª feira 22.08, uma pena de 12 anos de prisão contra Kirchner por um suposto caso de corrupção envolvendo superfaturamento de obras públicas na província de Santa Cruz.
Cristina Kirchner é acusada de liderar um esquema ilícito de fraude para favorecer o empresário Lázaro Baez, que tinha uma relação próxima com os Kirchner. Baez é dono da Austral Construções, empreiteira fundada após a eleição de Néstor Kirchner e que mais venceu licitações para obras durante as gestões do ex-presidente. Segundo da denúncia, os crimes de superfaturamento de obras teriam ocorrido entre 2007 e 2015.
A partir de agora, Kirchner tem 10 dias úteis para apresentar sua defesa. O processo ainda pode levar vários meses, mas a expectativa é que o veredicto saia antes do final do ano.