Para aqueles que estão prestes a balançar, NAM 2.0 saúda você
Pepe Escobar
para The Saker
23.07.2022
O nam 2.0 drive – do qual a China é um ator-chave – está em forte oposição à forma como o Império do Caos – e mentiras – tece sua rede tóxica, através da guerra contra o terror, desde o início do milênio.
Aquees foram os dias, em 1955, na lendária Conferência Bandung na Indonésia, em que o recém-emancipado Sul Global começou a sonhar em construir um novo mundo, através do que se configurou mais tarde, em 1961, em Belgrado. como o NAM Movimento Não-Alinhado.
O Império do Caos – e das Mentiras – nunca iria permitir um papel de protagonista para o NAM. Assim, jogou sujo: tudo, desde subversão hardcore e suborno para golpes militares e revoluções protocolores.
No entanto, agora, o Espírito de Bandung vive novamente, através de uma espécie de NAM 2.0 em esteroides: um Movimento Recém-Alinhado, com os líderes de vaguarda da integração eurasiana.
Acabamos de ter, na reunião de uma nova troika de poder, em Teerã, um gostinho de que maneira o vento geopolítico está soprando. Ao contrário de Stalin, Roosevelt e Churchill, em 1943, Putin, Raisi e Erdogan não se reuniram para esculpir o mundo. Eles se reuniram essencialmente para discutir como um outro mundo seria possível – através de acordos bilaterais, trilaterais, multilaterais e um papel aprimorado para uma série de instituições geopolíticas e geoeconômicas relativamente novas.
A Rússia e a China estiveram na vanguarda de todas as decisões-chave recentes. Sua diplomacia levou o Irã a juntar-se ao SCO como membro pleno. Sua atração está também atraindo os principais players do Sul Global para se juntarem ao BRICS+.
A Rússia convenceu a Turquia a juntar-se ao BRICS+, ao SCO e à UE, e facilitou a reaproximação de Teerã e Ancara, bem como de Teerã e Riade. A Rússia influenciou em grande parte o processo de remake/remodelação em toda a Ásia Ocidental.
Esta unidade NAM 2.0 – da qual a China é um ator-chave – está em forte oposição à forma como o Império do Caos – e mentiras – tece sua rede tóxica, através da guerra contra o terror, desde o início do milênio. O Império tentou subjugar o que descreveu como MENA (Oriente Médio-Norte da África) com base em duas invasões/ocupações, do Afeganistão e do Iraque; uma devastação total, da Líbia; e uma prolongada guerra por procuração, Síria. Todas falharam.
E isso nos leva ao impressionante contraste entre essas duas abordagens de política externa, graficamente ilustradas pelo espetacular fracasso do "líder do mundo livre" em sua visita a Jeddah (de Biden à Arábia Saudita, nesta semana) – ele nem sequer foi autorizado a ir a Riade – em comparação com o desempenho de Putin em Teerã.
Não só estamos testemunhando o delineamento de uma aliança informal Rússia/Irã/Turquia; estamos testemunhando a aliança lendo um ato delicado de motim contra o Império: "deixe a Síria, antes que você sofra mais uma humilhação".
E com um corolário dirigido aos curdos: "mantenham-se longe dos americanos e reconheçam a autoridade de Damasco antes que seja tarde demais".
Ancara nunca poderia admitir isso em público, mas o fato é que o sultão Erdogan – tanto contra as tropas dos EUA na Síria quanto Putin e Raisi – parece ter rapidamente calibrado seus projetos anteriores em território soberano sírio.
A tão debatida operação militar turca no norte da Síria no final pode estar restrita a domar os curdos das YPG. O cerne da ação vai, de fato, girar em torno de como a aliança Rússia/Irã/Turquia/Síria tornará impossível aos americanos roubarem petróleo sírio.
Como a Rússia está agora no modo "não faça prisioneiros" ao enfrentar o "Ocidente Coletivo" – esse, o mantra em cada intervenção de Putin, Lavrov, Medvedev, Patrushev –, firmemente alinhada com a China e o Irã, é inevitável que todos os outros jogadores do oeste da Ásia -- e além -- estejam dando atenção total ao novo jogo em curso na praça.
Go Caspian, Jovem
Interligando a Ásia Ocidental e a Ásia Central, o Mar Cáspio finalmente atingiu os holofotes geopolíticos e geoeconômicos – completos com o consenso inovador alcançado pelos cinco estados litorâneos na Cúpula Cáspio no final de junho para proibir oficialmente acesso da OTAN a essas águas.
Além disso, a liderança em Teerã em nenhum momento percebeu como o Cáspio é o corredor perfeito e consciente do custo do Irã para o coração da Rússia ao longo do Volga.
Portanto, não é de admirar que o próprio Putin, em Teerã, propôs a construção de um trecho-chave da rodovia na rota São Petersburgo-Golfo Pérsico, para o deleite dos iranianos. Deixa a multidão nostálgica do Grande Jogo naquela antiga ilha "governar as ondas" tendo ataques cardíacos em série: eles nunca poderiam imaginar que o "império" russo finalmente teria acesso total às águas quentes do Golfo Pérsico.
Por isso, estamos de volta à reengenharia absolutamente crucial do Corredor Internacional de Transporte do Norte do Sul (INTSC) – que desempenhará para Rússia e Irã um papel em paralelo, ao que a Iniciativa Belt and Road (BRI) desempenha para a China. Em ambos os casos, trata-se de corredores multimodais de comércio e desenvolvimento da Eurásia imunes à interferência da Marinha Imperial.
E aqui vemos a importância renovada da libertação hiper-estratégica de Mariupol e Kherson pelas forças russas e da DPR República Democrática de Donetsk. O Mar de Azov está agora configurado como um lago russo de fato – e o mesmo eventualmente acontecerá com o que está prestes a permanecer da costa (atualmente ucraniana) do Mar Negro, incluindo Odessa.
Assim, temos o corredor marítimo ultra-estratégico do Mar Negro-Mar Cáspio – através do canal Volga-Don – perfeitamente conectado ao Mar Negro-Mediterrâneo, e ao norte, até o Báltico e o rápido desenvolvimento do conector Atlântico-Pacífico, a Rota do Mar do Norte. Chame-a de Estradas Russas de Água de Heartland.
O combo NATO/Five Eyes/Intermarium não tem absolutamente nada para neutralizar esses fatos (overland) no solo (Heartland), exceto para jogar uma pilha de HIMARS no buraco negro ucraniano. E, claro, continuar desindustrializando a Europa. Em contraste, aqueles em todo o Sul Global com um sentido aguçado da história – como no grande debate de ideias em um sentido hegeliano – e também versados em geografia e relações comerciais estão ocupados se preparando para bater (e lucrar) com o novo ritmo.
Ter ambiguidade estratégica, vai viajar
Por mais que seja uma explosão para examinar todos os casos da Rússia jogando ambiguidade estratégica para níveis capazes de desconcerar todo o inchado aparato de "inteligência ocidental", o que está vindo à tona é como Putin – e Patrushev – estão agora voluntariamente aumentando o mostrador de dor para esgotar taticamente não apenas o buraco negro ucraniano, mas todo o NATOstan.
Os governos ocidentais estão entrando em colapso. As sanções estão sendo descartadas – praticamente em segredo. Um inverno deep freeze é um dado. E depois há a crise econômico-financeira que se aproxima, o Monstro Definitivo do Inferno, como Martin Armstrong deixou bem claro:
"Alem da inadimplência, não há nenhuma maneira pela qual eles possam sair dessa. Se eles não estão preocupados com milhões de pessoas invadindo os parlamentos da Europa ... Esta é realmente uma tremenda crise financeira que estamos enfrentando. Eles têm emprestado ano após ano desde a Segunda Guerra Mundial, sem intenção de pagar qualquer coisa."
Enquanto isso, Moscou pode estar acelerando as turbinas para lançar – no próximo outono? No meio do inverno? Na próxima primavera? – uma Mãe de Todas as Ofensivas multi-espectro, capitalizando uma série de estratégias interconectadas que já deixaram atordoado e confundiram todos os "analistas" do NATOstan.
Isso explicaria Putin parecendo que ele está assobiando alegremente Call Me the Breeze, de JJ Cale na maioria de suas aparições públicas. Em sua intervenção crucial no fórum Strong Ideas for a New Time, Putin promoveu entusiasticamente o advento de mudanças "verdadeiramente revolucionárias" e "enormes" que levariam à criação de uma nova ordem mundial "harmoniosa, mais justa e mais focada na comunidade e segura"
No entanto, isso não é para todos: "apenas estados verdadeiramente soberanos podem garantir uma dinâmica de alto crescimento". O que isso implica é que a ordem mundial unipolar, seguida por estados do Ocidente coletivo que dificilmente são soberanos, está condenada ao fracasso, pois está "se tornando um freio ao desenvolvimento de nossa civilização".
Apenas um soberano autoconfiante que não espera nada construtivo do Ocidente coletivo pode se safar descrevendo-o como "racista e neocolonial", carregando uma ideologia que "está se tornando cada vez mais tal e qual o totalitarismo". Nos velhos tempos do NAM, essas palavras seriam recebidas com um assassinato.
Então, a "ordem internacional baseada em regras" será preservada? Sem chance, argumenta Putin: as mudanças são "irreversíveis". Para aqueles que estão prestes a balançar, o NAM 2.0 saúda você.
CONFIRA em THE SAKER a íntegra da matéria, em inglês.
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