Mentiras do Império das Armas Biológicas
por Pepe Escobar
13.05.2022
Quais são as raízes que se agarram?
Que galhos crescem desse lixo pedregoso?
Filho do homem,
Não podes dizer, nem adivinhar.
Tu apenas conheces
um monte de imagens distorcidas onde bate o sol,
E a árvore morta não dá abrigo,
o grilo não refresca,
E na pedra seca a agua não canta.
Apenas sombra sob esta rocha vermelha,
E eu te mostrarei algo diferente de qualquer outro:
Tua sombra caminhando atrás de ti pela manhã;
Tua sombra subindo de noite para te encontrar.
Eu vou te mostrar o medo em um punhado de poeira.
T.S. Eliot, The Waste Land: I.
O Enterro dos Mortos, 1922
Esse vislumbre de “medo em um punhado de poeira” já é considerado um dos principais avanços desse jovem século 21, apresentado nesta semana pelo chefe da Força Russa de Radiação, Química e Proteção Biológica, Igor Kirillov.
Os resultados provisórios das evidências coletadas sobre o trabalho das armas biológicas dos EUA na Ucrânia são simplesmente surpreendentes. Esses são os principais destaques.
1. Os ideólogos das armas biológicas dos EUA integram a liderança do Partido Democrata. Ao se vincularem a organizações não-governamentais de biotecnologia, usando os fundos de investimento dos Clintons, Rockefellers, Soros e Biden, eles lucraram com financiamento adicional de campanha – tudo devidamente disfarçado. Paralelamente, eles montaram a base legislativa para financiar o programa de armas biológicas diretamente do orçamento federal.
2. Estavam envolvidos diretamente os fabricantes das vacinas contra Covid-19 a Pfizer e a Moderna, bem como a Merck e a Gilead – afamados como “conhecidos desconhecidos” de Donald e afiliados ao Pentágono.
3. Especialistas dos EUA testaram novos medicamentos nos laboratórios biológicos da Ucrânia, burlando os padrões internacionais de segurança. Pois agindo dessa forma, segundo Kirillov, “as empresas ocidentais reduzem seriamente os custos dos programas de pesquisa e obtêm vantagens competitivas significativas”.
4. De acordo com Kirillov, “juntamente com empresas farmacêuticas dos EUA e contratadas do Pentágono, as agências governamentais ucranianas estão envolvidas em atividades de biotecnologia militar, cujas principais tarefas são ocultar atividades ilegais, realizar ensaios clínicos e de campo e fornecer o biomaterial necessário”.
5. O Pentágono, relatou Kirillov, ampliou seu potencial de pesquisa não apenas na produção de armas biológicas, mas também na coleta de informações sobre resistência a antibióticos e presença de anticorpos para determinadas doenças na população de regiões específicas. O campo de testes na Ucrânia estava praticamente fora do controle da chamada “comunidade internacional”.
Essas descobertas, amplamente documentadas, sugerem grande negociata de armas biológicas “legitimadas” envolvendo os níveis mais altos do corpo político americano. Não há dúvida de que os russos planejam desmascará-los completamente em benefício da opinião pública mundial, começando com um Tribunal de Crimes de Guerra a ser criado neste verão europeu, provavelmente em Donetsk.
Um programa de armas biológicas dos EUA em andamento na Ucrânia é uma das três principais razões que levaram ao lançamento da Operação Z pela Rússia, lado a lado com a prevenção de uma iminente blitzkrieg administrada pela OTAN contra o Donbass e o desejo de Kiev de reiniciar um programa de armas nucleares. Estas são as três principais linhas vermelhas para a Rússia.
A força das evidências coletadas pode correlacionar-se diretamente com o que foi amplamente apresentado no discurso do Dia da Vitória cuidadosamente medido pelo presidente Putin. O Kremlin não blefa. Certamente privilegiará a apresentação meticulosa de fatos – armas biológicas – no terreno sobre a retórica arrogante.
O retorno do Nord Stream 2
O vice-representante russo permanente na ONU, Dmitry Polyaniskiy, anunciou a demanda da Rússia por uma reunião aberta do Conselho de Segurança da ONU para apresentar mais evidências relacionadas aos biolabs dos EUA na Ucrânia. Mesmo que a reunião seja vetada pelos EUA, as evidências serão inseridas pela Rússia nos registros da ONU.
Esses desenvolvimentos fornecem indicação extra de que não há absolutamente nenhum espaço para a diplomacia entre a Rússia e os EUA/Ocidente Coletivo, como o próprio Polyaniskiy sugeriu ao comentar a possível adesão da Ucrânia à UE:
“A situação mudou após a declaração de Borrell de que 'esta guerra deve ser vencida no campo de batalha' e após o fato de a União Europeia ser a líder nas entregas de armas [para a Ucrânia]”.
Ficou pior. O próximo capítulo é o esforço da Finlândia para se juntar à OTAN.
Os americanos apostam que a adesão da Finlândia – e da Suécia – à OTAN desacreditará totalmente a Operação Z de Putin, como tendo feito quase nada estrategicamente: afinal, em um futuro próximo, potenciais mísseis hipersônicos dos EUA estacionados na Finlândia e na Suécia, hoje ainda em desenvolvimento, estarão muito próximos de São Petersburgo e Moscou.
Enquanto isso, o desmascaramento russo da trambicagem norte-americana de armas biológicas levará um segmento tóxico das elites políticas americanas a turbinarem seu belicismo. Tudo seguindo roteiro cuidadosamente calculado.
Primeiro, essas “elites” de supervisão de armas biológicas ordenaram o bombardeio maciço de Donbas em Kiev no início de fevereiro. Isso forçou a mão do Kremlin, empurrando-o para lançar a Operação Z [sobre a Ucrânia].
Devemos sempre lembrar que o objetivo final do plano dos EUA, de treinar ucranianos para a guerra, era, desde 2014, desconectar a Alemanha da Rússia, uma vez que a Alemanha de fato controla economicamente a Eurolândia.
O controle imperial dos oceanos permite que o Império estrangule a Alemanha à vontade, [impondo-lhe a] subserviência, privando-a da energia russa – do mesmo modo como os britânicos fizeram com a Alemanha na Segunda Guerra Mundial, quando a Britânia governava os mares. Assim, a Wehrmacht não poderia fornecer combustível ao seu próprio exército mecanizado. Agora, em teoria, a Alemanha e a UE terão que olhar para os mares – e a dependência total dos EUA – por seus recursos naturais.
O regime político de Kiev, remotamente controlado, dominado por fanáticos do SBU e neonazistas do Azov, está tornando a coisa ainda mais difícil ao cortar todo o gás natural russo que segue pela Europa através da Ucrânia, reduzindo o fluxo em mais de um terço.
Isso se traduz como chantagem imposta pelos EUA para forçar a UE a aumentar o armamento Ukro contra a Rússia. Serão terríveis as consequências práticas para a Alemanha e para a UE, em termos de fechamento de indústrias e custo de aquecimento doméstico e de energia elétrica.
A Rússia, por sua vez, contará com uma poderosa rede capilar de gasodutos para a China e para o leste da Ásia, bem como com ferrovia de alta velocidade para transporte de todos os seus recursos naturais.
Contudo, o blowback contra os americanos não está fora do parnorama. Coisas estranhas têm acontecido. Se o transporte de de gás russo à Europa através da Ucrânia, for totalmente interrompido, não haverá alternativas. Supondo-se que haja QIs funcionando em Berlim, isso certamente abriria caminho para uma renegociação sobre o futuro do Nord Stream 2.
Conforme avaliação do chefe do Centro de Desenvolvimento de Energia Kirill Melnikov, da Rússia,
“o gasoduto Yamal-Europe está praticamente ocioso e uma das linhas do gasoduto Nord Stream 2 também está pronta para operação, embora o regulador alemão ainda não tenha emitido permissão para o início de seu funcionamento”.
Isso levou Melnikov a um comentário de valor inestimável:
“Se as compras alemãs forem mantidas [as mesmas de antes do conflito], a Alemanha provavelmente precisará autorizar a inauguração urgente da segunda linha do Nord Stream 2 para substituir a rota de trânsito ]de gás] ucraniana”.
Ninguém nunca perdeu dinheiro apostando na espantosa estupidez que permeia os níveis decisórios dos eurocratas. Pois, mesmo enfrentando o suicídio econômico, a UE está desesperada para “abandonar” o petróleo russo. No entanto, é impossível o banimento total, em razão da falta de energia da Europa Oriental.
Todo analista imparcial do mercado de energia sabe, por várias razões, que substituir o petróleo russo é D.O.A.: o acordo da OPEP+; a terrível divisão entre Washington e Riad; a interminável renegociação do JCPOA, onde os americanos se comportam como galinhas sem cabeça; e o fato crucial – que está além da compreensão dos eurocratas – de que as refinarias de petróleo europeias são projetadas para usar petróleo dos Urais.
Então, quando pensamos que poderíamos aproveitar o verão assistindo a Europa cometer hara-kiri, é hora de estocar aqueles Aperol Spritz(1).
Prepare-se para uma nova série de sucesso, 1ª temporada:
"Por dentro dos negócios americanos ilegais com armas biológicas."
(1) alperol spritz, drink de alcachofra com laranja.
CONFIRA em THE SAKER a íntegra dessa matéria.
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