Em discussão no Conselho de Segurança da ONU, o departamento de Defesa dos EUA é acusado de financiar armas biológicas em 30 laboratórios na Ucrânia
6ª feira, 11.03.2022
O Conselho de Segurança da ONU Organização das Nações Unidas reuniu-se na 6ª feira, 11.03, em uma sessão extraordinária solicitada pela representação da Rússia, para discutir atividades militares dos EUA com armas químicas e biológicas na Ucrânia, a partir de evidência trazida por documentação obtida pelas forças russas em sua "operação policial especial" no território ucraniano.
Desenvolvimento de bactérias com 50% de letalidade
Vasily Nebenzya, embaixador da Rússia na ONU, afirmou no Conselho de Segurança que há 30 laboratórios biológicos experimentais perigosos na Ucrânia, voltados à criação de patógenos como a cólera e a leptospirose, financiados pelo Ministério da Defesa dos EUA, com apoio do Ministério da Saúde americano.
Segundo Vasily Nebenzya, a Rússia tem documentos que aprentam exemplos chocantes de estudos para criar bactérias a partir de aves com letalidade de até 50% em humanos [mortalidade superior à da Covid-19]. Afirmou haver pesquisas também com parasitas e pulgas e que os EUA não impedem nem controlam o desenvolvimento dessas doenças.
O embaixador russo lembrou a grande possibilidade de aplicação desse matérial patógeno alcance de objetivos terrorista e o grande risco de sua disperção à toda Europa e Rússia, em razão da centralidade geográfica da Ucrânia. O embaixador acusou o cinismo do Ocidente por saber da existência desses laboratórios de armas químicas e biológicas e mesmo assim dizer que está em defesa do povo ucraniano.
Retórica de desvio da atenção e acobertamento
A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, na busca retórica de desviar contra a Rússia o foco voltado aos EUA, acusou a Rússia de ter, há muito tempo, um programa de armas biológicas, em violação ao direito internacional.
Linda disse ainda que os EUA estão preocupados que o pedido da reunião extraordinária do Conselho seja um esforço de 'false flag' (bandeira falsa) para que os russos ajam. Invertendo cíncamente contra a Rússia a concepção em desfavor dos EUA, Linda disse que a Rússia tem um "histórico de acusar falsamente outros países de violação daquilo que ela própria faz”. Revelou sua preocupação de que a Rússia esteja se preparando para usar agentes químicos ou biológicos contra o povo ucraniano.
Na busca de desviar o foco de si, Joe Biden, por sua vez, declarou que a Rússia pagaria um preço muito alto se usasse armas químicas.
Há, portanto, uma guerra de versões. Enquanto a Rússia acusa EUA e Ucrânia de estarem realizando exercícios com armas biológicas, os dois países dizem que, na verdade, quem pretende fazer uso dessas armas é a própria Rússia.
O Conselho de Segurança da ONU é composto por 15 membros, sendo 5 permanentes e 10 não permanentes, que são eleitos para mandatos de dois anos. Os membros permanentes, que têm poder de veto, são: EUA, Rússia, França, Reino Unido e China.
Tradição na mentira
A troca de acusações trouxe à memória a guerra do Iraque, em 2003, quando invadiu o país uma coalizão militar multinacional integrada por EUA, Reino Unido, Austrália e Polônia. A principal justificativa dos EUA foi o uso de armas químicas e de destruição em massa por Saddam Hussein, presidente iraqueano. A AIEA Agência Internacional de Energia Atômica, após em inspeção no Iraque, negou a existência de armas químicas naquele país, razão pela qual a proposta norte-americana não foi aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU.
Meses depois, os EUA reconheceram que o Iraque não tinha tais armas. O conflito durou oito anos, destruiu o Iraque, matou 2,9 milhões de iraqueanos e desestabilizou todo o Oriente Médio, viabilizando guerras a partir do surgimento do ISIS e da mobilização do povo curdo em prol de ganhos de território no Iraque, na Síria e na Turquia.
Para os EUA os benefícios da Guerra do Iraque foram o apossamento das reservas de petróleo iraqueanas por empresas norte-americanas -- que antes haviam sido nacionalizadas pelo presidente-deposto Sadam Hussein --, bem como o desmonte da iniciativa de Sadam de não mais aceitar dólares americanos na compra do petróleo de seu país, exemplo que se ensaiava ser seguido por outros países do Oriente Médio.