No texto, Peifer afirma que o fim do lucrativo acordo de submarinos com a Austrália, no contexto da criação da AUKUS, seria um dos motivos da frustração francesa.
No entanto, seria mais uma importante razão da frustração o contexto da atuação francesa no Indo-Pacífico, região de atuação do pacto AUkUS.
Para Peifer, a França dedicou uma atenção considerável, ao longo da última década, à sua estratégia no Indo-Pacífico, confirando que sua relação com a Austrália seria uma pedra angular nesta estratégia.
A França se considera uma potência Indo-Pacífica, acreditando que poderia ser um parceiro de grande valor aos EUA na região, uma vez que Washington, sob a administração Biden, teria deixado a agenda dos EUA na região e abraçou o multi-lateralismo e parcerias.
No Indo-Pacífico, a França possui cerca de 2/5 de seu território ultramarino, com cerca de 1,6 milhão de cidadãos franceses, além de países dependentes da França. As regiões de La Reunion e Maillot, ambas no Oceano Índico, elegem representantes para a Assembléia Nacional e o Senado franceses, assim como para o Parlamento Europeu. Usam o Euro como moeda e são governados pelas leis francesas.
Na área da Ásia Pacífico, vivem cerca de 130 mil cidadãos franceses e Paris reivindica para si territórios em ilhas inabitadas próximas de Madagascar e no sul do Oceano Índico, de acordo com o professor Douglas Peifer.
Embora o território ultramarino francês apresente baixo nível de interesse em termos de segurança, no geral ele é de grande importancia, tendo a França afirmado possuir a segunda maior zona econômica marítima do mundo, depois dos EUA.
Ainda em 2013, o Livro Branco da Segurança e Defesa Nacional da França declarou que a segurança no Oceano Índico era uma prioridade para o país, assim como para a Europa. Atualmente o presidente Emanuel Macron e o chanceler Jean-Yves Le Drian têm empregado grandes esforços para o desenvolvimento das relações no Indo-Pacífico, realizando visitas pessoais e dialogando com lideranças locais afirmando a ativa importância da França para a Austrália, a Índia e os EUA.
Contudo, segundo Peifer, o não-convite à França para o AUKUS teria sido desanimador para Paris. Os franceses acreditavam que poderiam compartilhar e ajudar dos planos americanos na região, ao passo que nem ao menos sabiam da criação da AUKUS, até que este foi anunciado ao mundo.
O caso lembra as questões sensíveis da França que datam da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria. No conflito, o presidente americano Francklin Roosevelt e o premier britânico Winston Churchill não viam o líder francês Charles De Gaulle como igual; e seria normal, tendo em vista a rápida conquista da França pela Alemanha e a total dependência de armas, equipamentos e dinheiro dos EUA e do Reino Unido pelo governo no exílio da França Livre durante a Guerra.
Ainda no tempo da Guerra, a França ficou fora dos planos do Dia D e não foi convidada para a Conferência de Yalta, onde foram debatidas questões chaves do mundo do Pós-Guerra.
Após a Guerra, os franceses não foram convidados para o compartilhamento de dados de inteligência entre os EUA e o Reino Unido, o qual posteriormente, incluíram o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia.
Da mesma forma, nem americanos nem britânicos demonstraram interesse em compartilhar com os franceses o knowhow de como fazer uma bomba atômica, o que contribuiu para a França para sair do comando da OTAN, após o presidente De Gaulle ter seus pedidos de reforma da aliança rejeitados.
Fonte: Radio Sputnik, degravação pela Redação JF
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