Os EUA avaliam as eleições presidenciais do Irã, que ocorreram na semana passada, como um "processo pré-fabricado" que não tem nada a ver com a vontade do povo, disse à imprensa um alto funcionário do Departamento de Estado norte-americano nesta 5ª feira, 24.06.
A retórica, contudo, não oculta a realidade. Prevendo que o novo presidente iraniano encerrará as negociações em curso em Paris -- destinadas a viabilizar o retorno dos EUA e ressuscitar o Acordo do qual os EUA retiraram-se unilateralmente -- a delegação americana apressou-se em buscar sua conclusão.
Na 4ª feira, 23.06, Washington teria concordado em remover todas as sanções ao petróleo e ao transporte do óleo da República Islâmica, conforme assim o afirmou Mahmoud Vaezi, chefe de gabinete do atual presidente iraniano Hassan Rouhani. A se confirmar nos próximos dias.
Eleições iranianas
Em 18 de junho, o Irã realizou eleições presidenciais. Ebrahim Raisi, chefe do Judiciário da República Islâmica, 60 anos, considerado ultraconservador linha-dura pela mídia filo-americana, foi o vencedor com 61,95% dos votos, 17,9 milhões dos 28,9 milhões de cidadãos, na eleição presidencial iraniana arrogantemente desqualificada pelo Departamento de Estado.
A posse presidencial de Ebrahim Raisi será em 03.08.2021, substituindo Hassan Rohani com quem já teve reunião na qual Rouhani afirmou esperar que o Irã viva situação melhor nos últimos de seu mandato, referindo-se a redução no números da Covid-19 e à revogação das sanções dos EUA ao Irã.
O campo conservador no Irã nunca confiou no acordo nuclear assinado pelo moderado Rohani, que se tornou alvo de críticas intensas após Donald Trump ter rompido o acordo, ter mantido as sanções econômicas anteriores e introduzido outras.
Importante evidenciar que a caracterização de conservadores no Irã não se refere, como no Ocidente, àqueles que defendem a aplicação de políticas econômicas ultra-liberais e práticas sociais de valorização da família, do casamento heterosexual etc.
"Eixo do Mal"
Alem do credo religioso e da conjugação igreja-estado, compartilhada com moderados, os conservadores no Irã posicionam-se estratégicamente diante do quadro internacional em que os EUA incluiram o Irã no "Eixo do Mal", junto com Iraque e Coreia do Norte. Após terem cunhado essa pérola da geopolítica, as forças dos EUA invadiram e destruiram o Iraque e só não fazem o mesmo à Coreia do Norte porque esta tornou-se um potência nuclear com bombas atômicas e misseis de longo alcance que podem alcançar qualquer ponto do território norte-americano.
Os conservadores têm em vista que Benjamin Netanyahu solicitou algumas vezes a concordância norte-americana para bombardear o Irã com ogivas nucleares e ogivas nucleares pequenas.
Consideram o bombardeio altamente destrutivo do porto de Beirute, capital do Líbano em 04.08.2020, em que as evidências apontam para uma nova modalidade de bomba e indicam autoria israelense. Foram 70 os mortos e 2.750 feridos, ondas de choque que estremeceram e danificaram edifícios em quilometros.
Consideram também o assassinato de cientístas físicos nucleares e engenheiros iranianos por Israel pelo Mossad.
Enquanto os moderados iranianos buscam uma rede de apoio internacional de nações para legitimar sua aspiração por desenvolvimento, negado por EUA e Israel, os conservadores iranianos aprenderam a lição, tantas as ameaças do governo ultra-direitista e conservador israelense.
Acossado o Irã, neste momento, pelo belicismo do deep state estadunidense e pela senilidade de Biden, ambos envolvidos com complexo industrial-militar, encerra-se no Irã o mandato presidencial de um moderado que sofreu muitas críticas por ter assinado acordo com os EUA e países europeus; e inicia-se o mandato de um novo presidente desfavorável ao acordo nuclear com os EUA e ancorado em um amplo acordo de cooperação com a China.