Diário de Mercado na 5ª feira, 30.08.2018
Turquia, Argentina e Trump contaminam negócios domésticos
Comentário.
Os ativos domésticos operaram sob elevado stress na quinta feira, reagindo especialmente à nova elevação de juros na Argentina, mas também a uma nova onda de tensão com a conjuntura econômica da Turquia e comercial entre EUA e China .
A taxa de juros básica da Argentina disparou de 45% para 60% ao ano, o que não impediu o peso de se desvalorizar mais de 20% contra o dólar logo na sequência, influenciando negativamente a performance do real.
A moeda brasileira atingiu no intradiário sua cotação máxima desde setembro de 2015, obrigando o Banco Central a intervir para conter a volatilidade, o que não acontecia desde 22 de junho. O quadro ainda foi agravado pelo crescimento das incertezas no âmbito eleitoral brasileiro, ante a aproximação do pleito e pesquisas mostrando resultados difusos.
Ibovespa.
Ainda que praticamente todos os setores tenham sofrido, com a elevação da aversão ao risco por parte do investidor estrangeiro, e o temor de contágio das crises turca e argentina ao Brasil, o setor financeiro foi o que amargou as maiores perdas na sessão. Petrobras e Vale também contribuíram à performance negativa, que praticamente apagou os ganhos da semana no ponderado.
O índice fechou aos 76.404 pts (-2,53%), acumulando alta de 0,19% na semana, recuo de 3,56% no mês, 0,00% no ano e alta de 7,78% em 12 meses. O giro financeiro preliminar da Bovespa foi de R$ 9,60 bilhões, sendo R$ 9,23 bilhões no mercado à vista.
Capitais Externos na Bolsa
No dia 28 (último dado disponível), houve ingresso líquido de R$ 159,396 milhões em capital estrangeiro na Bovespa, somando saldo positivo de R$ 3,297 bilhões em agosto, diminuindo o saldo negativo do ano para R$ 2,865 bilhões.
Agenda Econômica.
No Brasil, o IGP-M avançou 0,70% em agosto, ante 0,51% em julho e acima do consenso de 0,65%. Com o resultado, o índice acumulou alta de 8,89% em 12 meses e de 6,66% em 2018. A alta do IPA (atacado) foi o maior responsável pelo resultado do IGP, acelerando de 0,50% para 1,0% em agosto. Já o IPC (varejo) arrefeceu de 0,44% para 0,05%, ao passo que o INCC (construção) desacelerou de 0,72% para 0,30%.
Ainda por aqui, a taxa de desemprego nacional (PNAD Contínua, IBGE) recuou modestamente, atingindo 12,3% na média trimestral finda em julho, contra 12,4% no trimestre encerrado em junho. O dado veio em linha com as estimativas do mercado, mas sua decomposição evidencia fragilidade no mercado de trabalho: apesar de 928 mil postos criados no trimestre e de 515 mil pessoas terem deixado o contingente de desempregados, a taxa de desocupação reduziu pois mais de 315 mil indivíduos migraram para a inatividade.
Câmbio e CDS.
O stress com a situação argentina, com elevação brusca de sua taxa de juros, respingou no mercado cambial brasileiro. Após operar acima de R$ 4,21, o Bacen optou pela intervenção no mercado futuro, para contenção da volatilidade, e o dólar arrefeceu.
Ainda assim, novo capítulo da saga Trump x China ao fim da tarde influenciou e a moeda tornou a ganhar terreno ante o real, fechando a R$ 4,1612 (1,03%), passando a acumular alta de 1,41% na semana, 10,84% no mês, 25,77% no ano e 31,63% em 12 meses.
Risco País
O risco medido pelo CDS Brasil de 5 anos avançou a 302 pts, ante 292 pts da véspera.
Juros.
Os juros futuros acompanharam o câmbio, e avançaram significativamente, em especial na seção longa – em reação ao incremento da aversão ao risco quanto a economias emergentes devido às crises turca e argentina.
Um breve arrefecimento durante a tarde deu lugar a novas máximas quando relatos de prováveis novas taxações de Trump à China tomaram o mercado.
Para a 6ª feira.
No Brasil, resultado primário do setor público, relação dívida/PIB e o aguardado PIB do 2T18. No exterior, índices de inflação da França e da zona do euro, além da taxa de desemprego da última. Nos EUA, a destaque para a confiança do consumidor da Universidade de Michigan.
Confira no anexo a íntegra do relatório de análise do comportamento do mercado na 5ª feira, 30.08.2017, elaborado por HAMILTON ALVES, CNPI-T, RICARDO VIEITES, CNPI, e RAFAEL REIS, CNPI-P, integrantes do BB Investimentos