Bancos Centrais reagem à turbulência nos mercados
O dólar continuou a se valorizar frente à maioria das moedas, impulsionado por uma combinação de ritmo mais forte de crescimento nos EUA e atividade um pouco mais fraca no resto do mundo.
No entanto, esse disparidade de crescimento tende a se reverter na medida em que dados preliminares na China (e na Ásia emergente em geral) estão melhorando, o que é um bom sinal para mercados emergentes, porque tende a impulsionar as exportações mundiais e apoiar os preços das commodities.
As condições financeiras globais também se tornaram mais desafiadoras ao longo das últimas semanas, devido ao aumento dos riscos políticos na Itália. A incerteza provavelmente continuará a pressionar os mercados financeiros e reduzir o crescimento no país, porque mesmo que a formação de um governo tenha reduzido o risco de uma nova eleição – que poderia transformar-se em uma espécie de referendo sobre a permanência na zona do euro – permanecem preocupações sobre a postura fiscal e a sustentabilidade política do novo governo.
Dado o ambiente mais complexo, reduzimos nossas projeções para o euro e passamos a esperar crescimento mais fraco na região nesse ano e no próximo, mas ainda esperamos que o banco central europeu encerre suas compras de ativos em 2018.
A disputa comercial entre EUA e China é outro fator que tem alimentado as oscilações de mercado, e continua sendo um risco. A China parece disposta a cooperar e ofereceu várias concessões, mas as respostas dos EUA até agora tem sido ambíguas. Acreditamos que um aumento das tensões será evitado, porque a China pode oferecer ao presidente Trump conquistas suficientes para produzir a percepção de uma vitória nas negociações, antes das eleições de meio de mandato nos EUA.
As condições para os mercados emergentes seguem turbulentas, o que levou alguns bancos centrais a agir: a Argentina e a Turquia aumentaram juros de forma agressiva, enquanto Índia, Indonésia e Filipinas também entregaram algum aperto monetário.
Na América Latina, as moedas de países que apresentam vulnerabilidades, como Argentina e Brasil, tiveram desempenho pior que seus pares. O peso mexicano também sofreu alguma depreciação, enquanto no Chile, Colômbia e Peru, os preços altos das commodities e os menores riscos políticos protegeram as moedas de perdas mais intensas.
A recente onda de depreciação está pressionando os bancos centrais da região. Depois de subir para 40% ao ano a taxa básica de juros na Argentina não deve voltar a cair no curto prazo. No México, o banco central deve aumentar a taxa de juros em 0,25 p.p. em junho.
No Brasil, o banco central começou a intervir no mercado de câmbio por meio de swaps, mas altas de juros no curto prazo ainda são improváveis. As taxas de política monetária no Chile e no Peru provavelmente permanecerão nos níveis atuais, enquanto na Colômbia acreditamos que há espaço para um corte final (de 0,25 p.p.), antes que o ciclo de afrouxamento chegue ao fim.
Brasil
No Brasil, o cenário tem se tornado crescentemente desafiador. A continuidade do movimento de fortalecimento do dólar, em um ambiente de volatilidade nos mercados internacionais, pressiona a taxa de câmbio e nos motivou a revisar nossa projeção para 3,70 reais por dólar ao fim de 2018 e 2019 (antes, 3,50).
Domesticamente, reduzimos nossas projeções de crescimento do PIB de 2,0% para 1,7% em 2018 e de 2,8% para 2,5% em 2019 devido à piora das condições financeiras (câmbio mais depreciado, alta dos juros de mercado e queda dos preços de ativos financeiros) e aos efeitos da paralisação dos caminhoneiros.
Se, pelo lado da oferta, a greve tende a ter impacto pontual sobre a produção de bens e serviços, pelo lado da demanda, aumenta a incerteza na economia e eleva o risco fiscal, gerando um efeito mais duradouro sobre os níveis de confiança dos empresários e consumidores.
Do ponto de vista fiscal, o menor crescimento econômico e as medidas tomadas para encerrar a greve – que são apenas parcialmente compensadas por cortes de gastos e aumentos de impostos – aumentam os riscos de curto prazo, mas continuamos esperando que a meta de déficit primário seja cumprida em 2018.
Na inflação, as paralizações devem ter impacto apenas transitório sobre as leituras mensais do IPCA, mas a depreciação cambial exerce pressão sobre nossas projeções de fim de ano, que foram revisadas para 3,8% em 2018 e 4,1% em 2019 (antes, 3,7% e 4,0%). Nesse contexto, o banco central ainda deve manter a taxa Selic em 6,5% até o fim do ano.
Acreditamos que a dinâmica cambial pode influenciar as próximas decisões caso haja impacto relevante sobre as expectativas de inflação.