Os EUA enfrentam sua pior seca desde 1930. Estão perdidos cerca de 17% da safra de milho e aproximadamente o mesmo das safras de soja e trigo. Isso levou à expansão dos preços em cerca de 50%, em pouco mais de dois meses. A mudança no clima teve início em 2011, quando os níveis de chuva foram excepcionalmente elevados e a natureza agora compensa com longa estiagem.
Em paralelo, países exportadores de grãos também não têm apresentado bom desempenho climático. A Rússia sofreu seca prolongada de modo a ter que reduzir expressivamente suas exportações de trigo, possivelmente em torno de 50%. O Brasil, ao contrário, teve chuvas intensas em algumas regiões e deverá apresentar redução de sua produção de cana-de-açúcar; e no Rio Grande do Sul cerca de 40.000 agricultores tiveram suas lavouras afetadas por intensa seca, o que impactou negativamente as safras de trigo, feijão e milho, de modo a passarem doravante a ser beneficiados com recursos disponibilizados por meio do Cartão Emergencial Rural, cuja execução orçamentária encontra-se ainda em curso.
Surge no horizonte o temor da "agflação", inflação desencadeada pela elevação de preços de produtos agrícolas; e já se noticia nova reunião do G20 para a configuração de medidas multilaterais para o enfrentamento do problema, diante da possiblidade sempre presente de que países como Argentina, Brasil e Rússia reduzam suas exportações de grãos e agravem o problema. A peocupação com os preços da soja brasileira justificam-se pelo fato desse produto servir da ração animal nos países europeus e por restrições à sua exportação pelo Brasil poderem impactar a produção de alimentos, cerne a preocupação européia. Nesse sentido, é de se lembrar a defesa de intervenção no mercado, feita pelo ex-presidente francês, Nicolas Sarkösy, ao final de 2011, para contenção dos preços internacionais da soja, rebatida de imediato pelas autoridades brasileira.
Neste cenário, ressurge o debate sobre a utilização do milho para a produção norteamericana de etanol; e, da soja, para a produção de biocombustíveis no Brasil. Os EUA processam cerca de 40% de sua safra nacional de milho para a produção de etanol, que é acrescentado à gasolina. A Secretaria da Agricultura dos EUA estima que apenas 23% dos pés de milho apresentam-se em estado excelente ou bom, em face da intensa seca que aflige o país. Por essa razão, seu preço já se encontra 40% superior, comparativamente aos de junho último, prevendo-se redução de 13% na safra deste ano. A produção norteamericana de soja deverá também ser 12% inferior à de 2011. Em termos agregados, a produção de cereais do EUA deverá ser reduzida em 13% neste ano e a expectativa tornar-se sombria para os preços em termos mundiais.
Diante desse quadro, José Graziano da Silva, secretário geral da FAO Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, buscou convencer o governo norteamericano, em artigo publicado no Finacial Times, a suspender a vigência da lei que determina a adição de álcool à gasolina, para reduzir o impacto da redução de oferta de milho sobre o preço dos alimentos.
Parecem poucas são suas chances de sucesso na empreitada, pois o etanol, ainda que marginlmente, reduz a pressão sobre os estoques norteamericanos de petróleo e a iminência de uma guerra contra o Irã deverá tornar mais crítica a oferta de petróleo no mercdo internacional e elevar ainda mais seu preço.