Começo e... o fim
Ainda que economistas como Roubini e alguns poucos tenham antevisto a crise econômica mundial, o mundo passa por mudanças convenientemente não imaginadas pela grande maioria.
É verdade que a teoria econômica considera a possibilidade de crises, mas as pessoas comuns e economistas tradicionais, com raras exceções, deixam de surpreenderem-se com tais eventos. E, como não podia deixar de ser, passamos por momento de profundo questionamento a respeito de como lidar com incertezas e ocorrências que afligem as economias de países europeus e dos EUA.
O dado preocupante é que os países emergentes que poderiam ser o motor do crescimento mundial também deverão sofrer com o desaquecimento das economias centrais. A pergunta é: quando ou onde terá o seu fim a atual crise que eclodiu em 2008?
Os EUA, considerados um “porto seguro” para investimentos, viram o seu sistema financeiro entrar em colapso com a quebra de três grandes instituições financeiras. Uma delas, o centenário banco Lehman Brothers, e as outras duas ligadas ao setor de hipotecas. Além disso, quase uma centena de pequenos bancos foram incorporados por outros maiores ou fecharam as portas nos EUA, desde 2008.
A solução encontrada pelo governo norte americano foi o socorro imediato ao sistema financeiro para garantir a liquidez e evitar corrida bancária e saque de valores pelos correntistas.
A indústria automobilística, por sua vez, estava em estado letárgico, muito afetada pela concorrência internacional, com seus modelos mais econômicos e confiáveis. Diante da crise, a gigante General Motors teve que ser socorrida pelo governo americano.
A intervenção estatal foi crucial para evitar aprofundamento ainda maior da crise; e o governo dos EUA pode mostrar que a presença do Estado é fundamental para o bom funcionamento da economia.
Crer que o mercado encontrará sempre as melhores soluções ou, ainda, que terá mecanismos oportunos de correção e equilíbrio; e, além disso, terem os governos dos EUA e de países europeus promovido profunda desrregulamentação das economias, foi tudo isso que levou à crise.
Não significa que devamos ter intervenção governamental ao extremo na economia; ou que devamos construir um modelo de econômico de controle centralizado.
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Penso que o Estado deve desenvolver e aplicar um papel indutor da economia e manter instrumentos corretivos de desvios, sejam morais, sejam mesmo de natureza econômica. Nesse sentido, têm importante função os órgãos públicos de controle da ação do próprio Estado, como, no Brasil, o Ministério Público, bem como os órgãos voltados à defesa da concorrência, o sistema CADE/SDE/SEAE; e, ainda, aqueles relativos ao mercado financeiro, como o Banco Central, o COAFI e a CVM Comissão de Valores Mobiliários.
No outro lado do Oceano Atlântico, observa-se a batalha das duas principais economias do continente europeu para manter a moeda única. No entanto, hoje é reconhecido que a crise poderia ter sido iniciada na Europa com o default dos países altamente endividados. Na tentativa de evitar o pior, Alemanha e França estão trabalhando para que os países componentes da comunidade do Euro se comprometam a limitar o déficit público a 3% do PIB e implementem reformas necessárias ao equilíbrio das contas públicas.
Diante do fato de terem problemas com o seu déficit fiscal, países como Grécia, Espanha, Itália, Portugal e Irlanda, o financiamento e a administração de suas divididas se tornaram problemas insuperáveis sem a intervenção de Alemanha e França. A confiança que o mercado pôs recentemente nos títulos públicos da Itália não significa que o mesmo ocorra para as outras economias.
Mais uma vez, observa-se que os investidores atrelam os seus recursos às economias historicamente mais sólidas ou consolidadas como Alemanha e Estados Unidos, ainda que a economia deste último país apresente graves problemas. Sendo estas duas economias a fonte provável de recuperação para a economia mundial, à medida que estabilidade e retomada do crescimento forem nelas observadas, os investidores estrangeiros poderão novamente sentirem-se seguros para a retomada de suas aplicações. Países emergentes, como Brasil e China, por sua vez, poderão apoiar a recuperação mundial e, neste caso, a característica básica é que seus governos dispõem-se direcionar maiores recursos ao FMI para apoiar países europeus.
Para reversão do quadro de crise, penso que será necessário algo mais robusto e convincente que movimentos ciclotímicos e intermitentes de crescimento que a economia norte americana tem apresentado. Não poderão igualmente faltar fortes investimentos das economias europeias, algo que ainda contraria a atual perspectiva da política de contenção de gastos preconizada pelo Banco Central Europeu BCE e pelos governos europeus.
A despeito da indecisão das autoridades européias na adoção de políticas anticíclicas ou de contenção de gastos públicos; a despeito, também, dos desatinos do Partido Republicano e Tea Party em suas querelas com o governo Obama, às economias mais desenvolvidas cabe a responsabilidade crucial de promover a retomada do desenvolvimento mundial, já que foi nelas e por causa delas que a crise começou !