Déficit em conta corrente atinge US$ 4,4 bi em julho
Julia Gottlieb
economista do ITAÚ
Depto de Análises Econômicas
As transações em conta corrente registraram déficit de US$ 4,4 bilhões em julho, acima das nossas expectativas (US$ 3,6 bilhões) e do consenso de mercado (US$ 3,7 bilhões).
A principal supresa veio na conta de lucros e dividendos, com remessas mais elevadas. Para os próximos anos, mantemos a nossa visão de aumento gradual do déficit em conta corrente em linha com alguma retomada da atividade (reduzindo o superávit comercial) e em função do elevado estoque de investimento estrangeiro no país (que deve pressionar a conta de lucros e dividendos), mas sem comprometer a sustentabilidade externa.
Os dados correntes já apontam nessa direção. O investimento direto no país estabilizou em patamar mais baixo, mas continua sendo a principal fonte de financiamento do déficit em conta corrente.
A conta corrente registrou déficit de US$ 4,4 bilhões em julho, acima das nossas expectativas (US$ 3,6 bi) e do consenso do mercado (US$ 3,7 bi). Acumulado em 12 meses, o déficit em conta corrente avançou para US$ 15 bi ou 0,8% do PIB. A média móvel trimestral dessazonalizada e anualizada avançou para US$ 25 bi em julho
A balança comercial apresentou superávit de US$ 3,9 bilhões, abaixo dos US$ 6,1 bi registrados em julho de 2017, com importações de plataformas de petróleo.
O déficit de serviços somou US$ 3,0 bilhões em julho, estável em relação aos US$ 3,0 bi registrados em julho de 2017. O déficit de transportes seguiu avançando (para US$ 585 mi ante US$ 466 mi em julho de 2017). Os déficits de aluguel de equipamentos e de viagens internacionais, por sua vez, recuaram (para US$ 988 mi, ante US$ 1,1 bi e para US$ 1,3 bi ante US$ 1,4 bi, respectivamente). Na comparação mensal com ajuste sazonal, o déficit de serviços avançou 4%.
A conta de rendas teve déficit de US$ 5,5 bi, uma redução em relação aos US$ 6,6 bi observados no mesmo mês do ano passado. O pagamento de juros somou US$ 3,8 bi (ante US$ 4,5 bi em julho de 2017). O déficit de lucros e dividendos, por sua vez, surpreendeu e avançou na última semana do mês, somando US$ 1,7 bi (ante US$ 2,1 bi). Na comparação mensal, o déficit de rendas ficou praticamente estável.
Na conta financeira, o investimento direto no país (IDP) somou US$ 3,9 bi, um pouco acima das nossas estimativas (US$ 3,6 bi) e um pouco abaixo do consenso de mercado (US$ 4 bi), sendo sua totalidade na forma de participação no capital. Acumulado em 12 meses, o IDP ficou estável em US$ 64 bi (3,25% do PIB), um valor menor do que o observado ao longo do último ano, mas segue a principal fonte de financiamento do déficit em conta corrente. Dados preliminares divulgados pelo Banco Central (até dia 23 de agosto) mostram entradas de US$ 8,6 bi.
O investimento estrangeiro no mercado local de capitais foi fortemente positivo, com entradas de US$ 8,2 bi em julho. Foram registradas entradas de US$ 6,2 bi no mercado local de renda fixa e de US$ 2,0 bi no mercado local de ações. Acumulado em 12 meses, foram registradas entradas de US$ 6,5 bi para o mercado local de capitais.
Dados preliminares divulgados pelo Banco Central (até dia 23 de agosto) mostraram saídas de US$ 7,7 bi do mercado local de capitais.
Reservas Internacionais
As reservas internacionais terminaram julho em US$ 379,5 bi pelo conceito caixa e liquidez. O Banco Central tem uma posição zerada em linhas com recompra.
O déficit em conta corrente mostrou moderação na margem em julho. O superávit comercial menor e o déficit de lucros e dividendos mais elevado contribuiram para isso. Estes números mais fracos, no entanto, não devem prejudicar a sustentabilidade das contas externas. Do lado do financiamento, apesar do recuo no ano, o investimento direto no país segue cobrindo com folga o déficit em conta corrente. Os fluxos de investimento em carteira (renda fixa e ações) seguem voláteis, mas apresentaram entradas nos últimos doze meses.
Julia Gottlieb
Confira no anexo a íntegra do estudo preparado por JULIA GOTTLIEB,
economista do ITAÚ BBA