Relatório de Inflação: Corte de Juros mais adiante
Em nossa visão, o RI de hoje é consistente com nosso cenário de que a Selic começará a recuar apenas no 2º semestre de 2016.
O Copom divulgou nesta manhã de 5ª feira, 31.03.2016, seu Relatório de Inflação (RI) do primeiro trimestre. O RI reforçou a sinalização que as incertezas em torno do balanço de riscos para a inflação continuam, e enfatizou que as condições do cenário atual “não permitem trabalhar com a hipótese de flexibilização monetária”.
Em contrapartida, o Copom afirma que o hiato do produto está “mais desinflacionário que o inicialmente previsto”. A projeção de inflação converge para o centro da meta no primeiro trimestre de 2018, no cenário de referência, mas as projeções para 2016 e 2017 subiram frente ao RI anterior. Em nossa visão, o RI de hoje é consistente com nosso cenário de que a Selic começará a recuar apenas no segundo semestre deste ano.
O Copom avalia que o crescimento global deve ser moderado e destaca “a preocupação com o desempenho da economia chinesa e seus desdobramentos e com a evolução dos preços no mercado de petróleo”.
No Brasil, o Copom considera que remanescem as incertezas associadas ao balanço de riscos para a inflação, relacionadas ao processo de recuperação fiscal e à inflação corrente e expectativas de inflação pressionadas. O Copom lembra ainda que “o processo de realinhamento de preços relativos mostrou-se mais demorado e mais intenso do que o previsto”. Em contrapartida, como na ata de sua última reunião, o Copom afirma que o hiato do produto está “mais desinflacionário que o inicialmente previsto”.
Em linha com os discursos públicos, o Copom enfatiza no RI de hoje que as condições do cenário atual “não permitem trabalhar com a hipótese de flexibilização monetária”, e que adotará as medidas necessárias para assegurar o comprimento das metas. Em nossa visão, o Copom pretende reduzir os juros apenas no segundo semestre para garantir a trajetória de desinflação recém iniciada.
A projeção de inflação converge para o centro da meta no primeiro trimestre de 2018, no cenário de referência, mas as projeções para 2016 e 2017 subiram frente ao RI anterior. A projeção no cenário de referência (câmbio constante em 3,7 reais por dólar, e juros constantes em 14,25%) subiu para 6,6% no final de 2016 (6,2% no RI anterior). Para 2017, a projeção subiu de 4,8% para 4,9%. No primeiro trimestre de 2018 (apresentado pela primeira vez no RI de hoje), a projeção ficou em 4,5%, o centro da meta. As projeções no cenário de mercado (câmbio e juros de acordo com as expectativas de mercado) apresentam uma trajetória mais pressionada do que no cenário de referência em todo o horizonte de projeção, por considerarem uma trajetória de câmbio mais depreciada e taxa de juros mais baixas (câmbio em 4,30 reais por dólar e juros de 11,50% no primeiro trimestre de 2018).
Em nossa visão, o RI de hoje reforça o cenário de que o Copom deve reduzir os juros apenas no segundo semestre deste ano. A recessão prolongada e o câmbio mais estável devem contribuir para uma gradual redução das expectativas de inflação, o que abrirá espaço para esse ciclo de corte de juros mais adiante.
Ilan Goldfajn
Economista-Chefe
Caio Megale
Economista
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