A teoria de Everett é que a gramática pirahã não contém um conceito básico da gramática universal: a possibilidade de recursividade, ou seja, inserir frases dentro de outras frases indefinidamente como no exemplo “João disse que Maria disse que Pedro disse que Joana comprou uma casa”.
“Quando você escuta um discurso ou uma história pirahã, você não encontra recursividade em orações individuais. Eles até têm recursividade cognitiva, mas eles não tem recursividade na sintaxe”, explica.
Na hipótese de Everett, a gramática não é algo biológico, mas uma ferramenta aprendida culturalmente, com base nas necessidades de cada sociedade.
“A linguagem é um processo de resolver o problema da comunicação e cada cultura tem respostas diferentes. Não vejo nenhuma necessidade de propor uma gramática inata”,
diz. A teoria de Everett encontrou várias críticas no ambiente acadêmico, inclusive do próprio Noam Chomsky.
Mas as singularidades do pirahã não param por aí. No idioma, não há palavras para cores ou números. Os objetos são contados em palavras como poucos ou muitos.
“Os pirahãs não têm números simplesmente pela sua falta de utilidade nas aldeias. Eles não precisam dos números. Pessoas dizem que números são inatos, mas eles mostram que o ser humano não é tão previsível”,
conta Everett.
Os pirahãs também são capazes de formar frases inteiras apenas com assobios, um recurso usado durante as caçadas, para evitar afugentar os animais.
“Os assobios fazem parte da língua pirahã. É como se eles estivessem mudando de canal. Quando eles assobiam, é simplesmente os tons, alongamento de sílabas e acentuações que você encontraria na fala comum. Não é uma língua diferente, é apenas uma parte especial da língua”,
conta.
Segundo Everett, independentemente da polêmica envolvendo seu questionamento à teoria de Chomsky, aprender a língua pirahã e conviver com aquele povo foi uma experiência que mudou sua vida.
“Eu aprendi muito com os pirahãs, através das palavras deles, a apreciar o mundo em que eu vivo”,
diz.