Frustrações com a atividade econômica impactam a Bolsa e o câmbio, com menor influência sobre o secundário de renda fixa privada; contudo, o contexto sugere maior cautela em novas estratégias
Cenário
O mercado abre o ano de 2020, sendo surpreendido por impactos globais, advindos das tensões geopolíticas entre EUA e Irã, e por forte decepção dos agentes, no ambiente interno, com o recuo da produção industrial em nível pior que o esperado.
Por outro lado, a aversão ao risco global já repercute os primeiros sinais de arrefecimento, seguindo o pronunciamento do presidente dos EUA, em tom considerado menos bélico, e a iminência da assinatura da primeira fase do acordo comercial entre China e EUA, agendada para a próxima semana.
Em face destes movimentos, os principais mercados internacionais passaram a refletir otimismo, enquanto, na mão contrária, o ambiente doméstico realizou perdas, com a frustração das projeções da atividade econômica.
De fato, após os dados positivos da Fenabrave, com recorde de venda de veículos, e da Anfavea, acompanhados de índices PMI em campo de melhoria, a divulgação da produção industrial em queda, e pior que as projeções, afetou com força as expectativas dos agentes.
Com isso, a Bolsa reitera quedas sucessivas e o câmbio retoma a força de alta, enquanto os juros recuam entre os nominais e se elevam nos reais, comprimindo a inflação implícita nos vértices curtos.
Na renda fixa privada, porém, o contexto ainda se mostra favorável, mas o quadro geral do mercado interno sugere maior cautela, especialmente em operações mais curtas.
Debêntures no Secundário
Após encerrar o ano de 2019 com recordes históricos de negociação, beneficiados por sinais relevantes de amadurecimento deste mercado, a renda fixa privada ainda perfaz um cenário favorável às negociações no secundário, nos primeiros pregões deste ano.
Neste sentido, a melhoria de liquidez dos papéis e a quantidade de tickers substancialmente maior, observadas ao longo de 2019, já sinalizam, por si mesmos, um vetor francamente positivo para o mercado de debêntures, a se desenvolver neste ano.
No entanto, a conjuntura doméstica tem exercido maior influência sobre as expectativas dos investidores. Isto se observa com mais expressão no mercado de Bolsa, que registra contínuas saídas de recursos estrangeiros (acumulando expressivos R$ 43,5 bilhões em 2019), mas o seu principal índice vem se sustentado em tendência primária de alta.
Assim sendo, neste momento, cabe uma sinalização de cautela. Embora os primeiros sinais emitidos pelo secundário de debêntures ainda sejam positivos, as surpresas negativas com os indicadores de atividade estão em fase de assimilação pelos agentes, como se observa nas curvas de juros, e poderão resultar na calibragem de novas premissas de precificação e, até mesmo em correções, a depender dos próximos indicadores.