O segredo nem sempre é sucesso
Dra. Ana Cristina Von Jess, adv
Comecei a trabalhar com redes de franquia em uma época que a preocupação com os segredos do negócio era defendida com unhas e dentes. Parecia que a grande questão sempre estava em como proteger aquela "inovação", ainda que não significasse propriamente algo tão inovador assim.
A forma da contratação era pensada para proteger as informações passadas na fase pré-contratual. As multas pela quebra da confidencialidade eram pesadíssimas. Nos contratos de franquia, as chamadas "viradas de bandeira" eram motivo para um rompimento com consequências (ao menos contratuais) devastadoras para os franqueados.
Não é que isso tenha desaparecido. É claro que ainda é grande a preocupação das redes com os seus segredos de negócio, porém, não se pode negar que, a cada dia, o que mais interessa é a constante inovação e o permanente encantamento de seus franqueados e consumidores.
Não adianta mais pensar uma atividade, expandi-la por meio de franquias e simplesmente acreditar que tudo está feito. O mercado vem se modificando todo o tempo, coisas novas vêm surgindo e a necessidade de adequação é constante.
Apresentar novidades, criar oportunidades de novos negócios, inventar aspectos atrativos que façam a diferença, incentivar a dedicação e comprometimento dos franqueados e com isso, aumentar a visibilidade e reconhecimento das marcas passou a ser o que realmente importa.
É claro que as preocupações com os segredos do negócio ainda existem. É claro que os resguardos contratuais devem estar sempre previstos, porém é claro também que lacrar o negócio a sete chaves não é absolutamente garantia de nada.
Talvez por isso, nesse cenário atual, tenha me causado grande preocupação me deparar com franqueados de uma rede, distratando ou negociando seus contratos para, veladamente, contratarem com uma rede concorrente que, ao contrário da franqueadora "traída", é nova no mercado em que ambas atuam.
Explicando melhor. Uma grande rede com anos de atuação está passando por algumas dificuldades e, somando-se isso, ao cenário de retração de nossa economia, muitas de suas unidades vêm operando no vermelho.
Obviamente, com a falta de faturamento, tudo se torna problema. Deficiências de operação da franqueadora que sempre existiram, passam a afetar o negócio franqueado de forma cada vez mais impactante e a vontade de romper a relação e recompor de alguma forma os prejuízos sofridos, passa a ser maior que tudo.
No caso que vivenciei, franqueados nesta situação foram literalmente aliciados por uma nova marca que, sabedora da crise instalada em sua concorrente, viu neles, uma boa oportunidade de conhecer profundamente os métodos e procedimentos usados pela rede anterior e de converter os pontos comerciais já existentes para ostentarem o novo negócio.
Franqueados já sofridos pelas dificuldades que estão enfrentando, alguns com prejuízos que montam valores maiores que o próprio investimento no negócio e, ainda assim, pensando em se "converterem" em uma marca que, além de desconhecida, não tem qualquer experiência em sistemas de franquia.
Do lado de lá, uma rede franqueadora nova, talvez até com gás para se tornar relevante em seu segmento de atuação, angariando -- já de início -- franqueados sofridos, ressabiados e, em sua maioria, descapitalizados, como forma de iniciar sua expansão.
Tudo errado, sob todos os aspectos. Não há segredo de negócio capaz de fazer uma realidade como essa virar uma experiência de sucesso.
Artigo publicado sob autorização da Dra. Ana Cristina Von Jess, adv
Diretora Jurídica da ABF Associação Brasileira de Franchising - Rio de Janeiro
Integrante do Conselho de Franchising da Associação Comercial do Rio de Janeiro
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