Retórica belicista de Biden e a resposta de Putin ao Ataque Pessoal
Em um vídeo de 5min41’, Vladimir Putin, presidente da Rússia respondeu ao ataque pessoal que lhe foi desferido em 15.03 por Joe Biden, presidente dos EUA, que o chamou de “assassino”, na última 2ª feira.
A alegação de Biden para o ataque pessoal foi de a Rússia teria promovido interferências nas eleições presidenciais americanas de 2016, que elegeram Donald Trump para o primeiro mandato, de 2017 a 2020. Biden afirmou que Putin era "um assassino" e que “pagaria um preço” pelas alegadas interferências em eleições norte-americanas.
O tema volta à baila 5 anos após a "desclassificação" (quebra de sigilo e publicação pelo governo) do relatório do Conselho Nacional de Inteligência (NIC, na sigla em inglês), na 2ª feira, 15.03. O relatório afirma que a Rússia tentou minar a vitória de Joe Biden, apoiar a eleição de Donald Trump e "agravar as divisões sociopolíticas nos EUA". Segundo esse relatório, Irã, Hezbollah e Cuba também estariam entre os que tentaram intervir nas eleições.
O assim chamado "caso russo" foi investigado pelo procurador Robert Mueller que não encontrou prova alguma de "conspiração de Trump com a Rússia", alegadas pelos Democratas, o bastante para arquivar o caso e frustrar membros do Partido de Joe Biden, que, agora, volta à carga em fakenews.
Condicionantes atuais
No presente momento, o governo Biden rediscute sua estratégia e orçamento militar, desafios, adversários a combater e parcerias, meios militares, armas, campos de batalha e as 900 bases militares distribuídas pelo planeta.
O lobby da indústria bélica se faz presente nos discursos de chefes militares americanos e em artigos de acadêmicos de think tanks dos EUA, sugerindo estratégias, aquisição de meios militares ainda mais avançados e muito maiores gastos.
Esses especialistas avaliam os atuais armamentos norte-americanos como insuficientes para enfrentar um conflito com a Rússia ou China, e situam os EUA como tecnologicamente superados pela Rússia em submarinos, sistemas de defesa, mísseis, caças, fragatas com sistemas de lançamento vertical de misseis etc.
O mesmo, com relação à China, que possui mísseis que podem atingir Washington em 30 minutos, tem capacidade de desmantelar a rede de satélites norte-americanos, situados a 400 km de altura, que servem ao sistema GPS militar, além de caças stealph de 5ª geração possivelmente menos problemáticos que os F-35 americanos, além contar com uma infinidade de navios de guerra e de submarinos modernos para fazer frente às forças dos EUA no mar da China.
Retórica de Biden
A exposição tonitroante ao público desse quadro de hostilidades e de ameaças à superemacia militar dos EUA, a retórica agressiva de Biden contra Putin, isso pode ter sido algo necessário ao novo governo norte-americano para justicar, perante à opinião pública, a proposta orçamentária de expansão dos gastos militares dos EUA, que no momento atual já são superiores ao da soma dos gastos militares de todos os demais países do planeta.
Por essa razão Biden 'requenta' assunto de 5 anos atrás. Mas, é importante destacar que, a despeito de envolver, na superfície, exclusivamente interesse dos Democratas, não há oposição importante nos EUA quando o tema é aumento do orçamento militar. Pois, no Capitólio, o bloco de deputados e senadores, que operam consonantes com os interesses da indústria bélica, inclui Democratas e Republicanos eminentes, formadores de opinião e com poder suficiente, entre seus colegas congressistas, para aprovar aumento de gastos militares. Quando o tema é gasto militar, democratas e republicos trabalham juntos.
A Resposta de Putin
Evidentemente sabedor de tudo isso, Vladimir Putin respondeu a agressão com fineza e urbanidade, de forma educada, culta e articulada, que se espera de um estadista militarmente muito poderoso e experiente pela convivência com os quatro últimos presidentes norte-americanos.
Confira, a seguir, a íntegra do texto da apresentação de Putin, feita em vídeo disponibilizado no You Tube pela mídia Sputnik News ... ou clique no endereço que segue, para assistir ao vivo e em cores.
“... Agora, em relação à declaração de meu colega americano, [Biden]. Nós nos conhecemos pessoalmente, e o que eu lhe responderia ? Eu lhe digo: tenha saúde. Eu lhe desejo saúde. Falo isso sem ironia ou brincadeira. Em segundo lugar, se falar mais amplamente sobre o tema, gostaria de dizer que na história de cada povo e estado existem muitos eventos difíceis, dramáticos e sangrentos.
"Mas, quando avaliamos outras pessoas, ou até outros estados e povos, é como se a gente estivesse se olhando no espelho. A gente sempre acaba se vendo porque sempre atribuímos ao outro aquilo que nos compõe. O que de fatos somos. Eu me lembro [sorrindo] que na minha infância, no pátio [do colégio], quando discutíamos uns com os outros, a gente sempre dizia: ‘Cada um chama o outro daquilo que ele mesmo é’. E isso não é só uma brincadeira de criança. O sentido dessa fala é muito profundo e psicológico. A gente sempre vê nossas próprias qualidades na outra pessoa; e pensamos que ela é igual a nós. É como resultado disso que nós julgamos os atos dessa pessoa e criamos uma opinião sobre ela.
“Em relação ao establishment americano -- isso não é sobre o povo norte-americano em geral -- Lá existem muitas pessoas dignas, honestas e inspiradoras que querem viver conosco em paz e amizade. Nós sabemos disso, valorizamos isso e contamos com essas pessoas no futuro.
"Mas, em relação ao establishment americano, a classe governante se fundou em condições conhecidas e nenhuma delas simples. A tomada do continente americano por europeus foi ligada ao extermínio da população nativa. Foi ligada ao genocídio, como dizemos hoje. Um verdadeiro genocídio das tribos indígenas. Depois veio o grande e duro período da escravidão, muito cruel.
"Tudo isto segue ao longo da historia. Até os dias de hoje acompanha a vida nos EUA, ou de onde veio o movimento Black Lives Matter ? Isso mostra que isso ainda tem importância. Até hoje os afro-americanos enfrentam a injustiça e o extermínio. É governando com tais idéias que a classe governante dos EUA resolve problemas internos e externos, pois os EUA são o único país no mundo que usou armas nucleares; e, mais, contra um país não-nuclear, contra o Japão, no fim da Segunda Guerra, contra as cidades e Hiroshima e Nagasaki. Não havia nenhuma necessidade militar para isso. Foi um extermínio direto da população civil.
“Mas, por que digo isso? Porque sei que, em geral, o governo dos EUA intenciona ter um tipo de relação conosco, nas questões onde há interesses dos próprios EUA, sob as condições deles. Nós, embora eles pensem que somos iguais a eles, somos pessoas diferentes. Nós temos outro código genético, cultura e moral. Mas, nós sabemos defender nossos próprios interesses; e vamos trabalhar com eles [EUA], mas, nas áreas em que nós temos interesse e nas condições que cremos serem vantajosas para nós. E eles vão ter que aturar isso.
"Eles vão ter que aturar isso, apesar de todas suas tentativas de parar nosso desenvolvimento. Apesar das sanções, insultos, eles vão ter que aturar isso. E, nós, levando em consideração nossos interesses nacionais, vamos desenvolver as relações com todos os países do mundo, incluindo os EUA.”
Fonte: SputnikNews, em vídeo disponível no You Tube em 20.03.2021.