Ex-presidente brasileiro 'Lula' pode concorrer novamente
à medida que os processos judiciais são julgados
Uma decisão do Supremo Tribunal Federal prepara o cenário para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concorra contra o presidente Jair Bolsonaro na disputa presidencial do ano que vem.
O STF Supremo Tribunal Federal retirou nesta 2ª feira vários processos criminais contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, restaurando seu direito de buscar a presidência novamente, em uma decisão com potencial para remodelar o futuro político do Brasil.
O sr. da Silva, líder esquerdista ardente que liderou o Brasil de 2003 a 2010, havia sido o primeiro colocado na disputa presidencial de 2018, eventualmente vencida por Jair Bolsonaro. Mas o Supremo Tribunal Federal, em abril daquele ano, decidiu que o Sr. da Silva não poderia comparecer às urnas como resultado de uma condenação em um caso de corrupção proferida em 2017.
Com seus direitos políticos agora restaurados, espera-se que o Sr. Silva concorra contra o sr. Bolsonaro na eleição presidencial do ano que vem.
O titular, um líder polarizador de extrema-direita que homenageia a ditadura militar brasileira, enfrentaria um desafio formidável no Sr. da Silva, amplamente conhecido como "Lula" no Brasil, um ex-preso político que permanece reverenciado entre os pobres brasileiros.
O sr. da Silva, 75 anos, e muitos de seus apoiadores há muito argumentam que os processos criminais contra ele foram politicamente motivados. O Sr. da Silva foi condenado por aceitar um apartamento à beira-mar como parte de um esquema de propina envolvendo contratos governamentais.
"O ex-presidente Lula foi preso injustamente, teve seus direitos políticos indevidamente revogados e seus bens congelados",
disseram os advogados do Sr. da Silva em nota.
O Sr. da Silva foi condenado a 12 anos de prisão, mas uma decisão do Supremo Tribunal Federal em novembro de 2019 permitiu que ele permanecesse em liberdade enquanto seus recursos estavam pendentes.
O juiz federal que supervisionou o caso, Sergio Moro, deixou a bancada logo após o governo Bolsonaro, e ingressou em seu gabinete como ministro da Justiça.
A força-tarefa anticorrupção que investigou o Sr. da Silva, que tinha sede na cidade do sul de Curitiba, foi dissolvida no início deste ano em meio a questionamentos sobre irregularidades éticas e processuais por parte de seus procuradores.
Nesta 2ª feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, decidiu que o Sr. da Silva nunca deveria ter sido processado em Curitiba. A decisão, que abrange quatro processos criminais, não representou absolvição do Sr. da Silva. A procuradoria-geral disse logo após a decisão ser proferida que buscaria uma decisão do tribunal.
O ministro Fachin disse que o ex-presidente ainda pode enfrentar acusações se os procuradores da capital, Brasília, decidirem assumir alguns dos casos desocupados. O Sr. da Silva enfrenta outros três casos de corrupção em Brasília, que ainda não chegaram a um veredicto.
A decisão do juiz de jogar os casos chocou o estabelecimento político brasileiro, abalou o mercado de ações e desencadeou uma enxurrada de previsões sobre a corrida presidencial do próximo ano.
O Sr. da Silva foi o alvo mais importante de uma ampla investigação de corrupção que começou em 2014 e acabou com o estabelecimento político e empresarial brasileiro por anos.
Moro, um juiz de carreira de 48 anos, tornou-se a figura mais visível na repressão, que muitos brasileiros apoiaram inicialmente, vendo-a como um meio de abordar a cultura endêmica da corrupção no país.
Mas a estrela do Sr. Moro decaiu nos últimos anos à medida que seus motivos e ética foram questionados. Muitos viram sua decisão de ingressar no gabinete do sr. Bolsonaro — com quem teve uma desacordo em abril passado — que minou a visão pública de integridade de seu trabalho como juiz.
A defesa do sr. da Silva ganhou grande destaque em junho de 2019, quando o Intercept Brasil, site de notícias online, publicou mensagens vazadas trocadas entre procuradores e Moro. As mensagens mostraram que Moro deu dicas aos procuradores e orientação estratégica, violando regras de conduta de juízes no Brasil.
Moro se recusou a comentar na 2ª feira à noite.
O Sr. da Silva, ex-líder sindical que começou na política ao desafiar a ditadura militar que o prenderia, tornou-se o líder mais popular do país desde que a democracia foi restabelecida em meados da década de 1980.
Ele governou durante um período em que a economia brasileira floresceu à medida que os preços das commodities subiam, um boom que o Sr. da Silva costumava tirar milhões da pobreza e ampliar o acesso ao ensino superior para comunidades marginalizadas.
Mas seu governo também foi dominado por escândalos de corrupção. Muitos aliados próximos foram processados por seu papel em enormes esquemas de propina que revelaram um sistema de enxerto institucionalizado envolvendo algumas das maiores empresas do Brasil.
Ao longo da tumultuada presidência de Bolsonaro, os partidos de oposição não conseguiram se unir em torno de um político que poderia desafiá-lo no próximo ano. Isso provavelmente deixa o Sr. da Silva singularmente qualificado para montar um retorno à medida que o Brasil se recupera do brutal pedágio da pandemia coronavírus.
Bolsonaro nesta 2ª feira chamou de desastrosa a perspectiva de uma nova candidatura presidencial do Sr. da Silva.
"Acho que o povo brasileiro não vai querer ter um candidato como ele em 2022 e nem vamos pensar na possível eleição dele",
disse o presidente a jornalistas.