Bens de Capital - Análise Setorial de Desempenho em Bolsa
Janeiro: aversão ao risco impacta mercado de ações mas bens de capital sobe
Janeiro foi marcado por um movimento de aversão a risco oriundo das tensões geopolíticas e Coronavírus, apesar das perspectivas positivas para 2020 baseadas, principalmente, na
(i) recuperação da atividade doméstica,
(ii) baixos níveis de juros e nos
(iii) avanços comerciais entre EUA e China.
O Ibovespa recuou 1,6% m/m a 113.761 pts e o dólar a fechou em R$ 4.28/US$. A expectativa da desaceleração da China, com respectiva influencia na atividade econômica global, pressionou os mercados globalmente.
Entretanto, destacamos a apreciação da FRAS3 e WEGE3, que subiram 20,7% m/m e 13,7% m/m, respectivamente, demonstrando resiliência em função de perspectivas domésticas mais otimistas combinadas a divulgação de fatos relevantes recentes.
No cenário doméstico, o Bacen¹ encerrou o ciclo de baixa após reduzir a taxa Selic para 4,25% a/a, com projeções de crescimento para o PIB 2020e no último relatório (03/fev) para 2,30% (ante 2,31%), e 2,50% para 2021.
Por outro lado, a produção industrial nacional, divulgada pelo IBGE, apresentou queda de 1,2% a/a em dez/19, fechando o ano com recuo de 1,1% a/a, após dois anos consecutivos de evolução (+2,5% a/a em 2017 e +1,0% a/a em 2018), pressionado principalmente pela indústria extrativa (-9,7% a/a), o que frustrou as expectativas de mercado.
Dentre as grandes categorias, vimos bens de consumo crescendo 1,1% a/a puxado por “linha branca” (+10,7% a/a), enquanto bens intermediários e de capital caíram, respectivamente, 2,2% a/a e 0,4% a/a, refletindo os desafios enfrentados pelo setor em 2019.
Os indicadores de confiança de jan/20, divulgados pelo CNI e FGV, oscilaram em sentidos opostos com alta da Confiança industrial para 65,3 pts (ante 64,30 pts) enquanto a Confiança do Consumidor recuou para 90,4, comparado a 91,6 pts em dezembro.
Os indicativos de recuperação gradual econômica corroboram com as expectativas mais otimistas para o Setor de Bens de Capital em 2020, que vão tomando corpo à medida que os investimentos, tanto de ciclo curto quanto de ciclo longo, apresentam sinais de retomada. Indústria Automotiva. Anfavea2 divulgou em janeiro, dados que decepcionaram o mercado.
Vimos alta 12,2% m/m na produção de veículos, mas uma queda das vendas de 26% m/m (-3,2% a/a) para todos os segmentos, justificada pelos impactos da transição do licenciamento com placas Mercosul e por uma base comparativa sazonalmente mais forte. Porém, de acordo com a Associação, as vendas de fevereiro já compensam as quedas observadas, em linha com suas perspectivas para 2020: evolução de 9,4% a/a nas vendas, mediante a uma produção 7,3% a/a maior, apesar da queda esperada de 11% a/a nas exportações (ainda impactadas pela crise econômica argentina).
Grande responsável pela queda brusca de 33,2% a/a nas exportações brasileiras em 2019, a Argentina deve continuar exercendo influência nas projeções 2020, porém em menor nível. No país, as vendas de veículos seguem abaixo dos níveis históricos. Em janeiro, conforme ACARA3, os licenciamentos subiram 107,3% m/m, porém considerando a base mais fraca da década, com redução de 29,9% a/a no volume vendido em janeiro/2019.
A indústria automotiva norte-americana, por sua vez, apresentou desempenho correlato ao observado na indústria brasileira: queda na venda total de veículos de 25,3% m/m em janeiro. No comparativo anual, a queda foi marginal (-0,6% a/a), uma vez que a alta de caminhões leves, tanto no mercado interno (+10,9% a/a) quanto exportação (+2,0% a/a), não foi suficiente para compensar a retração de -24,2% de automóveis.
Tal desempenho dos EUA reflete os dados do FED de produção industrial de Veículos e Peças, que encerrou janeiro em 124,9 pts, ainda abaixo da média 2019 (127 pts), com utilização da capacidade industrial atingindo 77%, abaixo dos níveis de 2017 e 2018.
No mês, também observamos um recuo do ISM EUA para 47,2 pts (média UDM de 51,2 pts) e uma queda do PMI manufatura para 51,9, após duas altas consecutivas mensais. A boa notícia veio do índice Payroll de janeiro, com a criação de 225k vagas em janeiro, acima das expectativas do mercado, enquanto a taxa de desemprego se manteve bem plana em 3,6%.
Na Europa, as vendas de veículos subiram 6,8% m/m e 18,5% a/a no primeiro mês do ano, para 1.512 mil unidades, tendo folego no último quadrimestre após ano desafiador, impactado por reflexos regulamentares na cadeia produtiva automotiva. O PMI europeu segue estável em 51 pts, em seus patamares históricos baixos, refletindo a desaceleração do bloco.
Máquinas e Equipamentos.
O Indicador Ipea4 Mensal de FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo) encerrou o ano de 2019 com alta de 2,1%, abaixo do projetado de 3,6%. Em dezembro caiu 2,7% m/m, pelo terceiro mês consecutivo, reflexo do trimestre menos aquecido, com máquinas e equipamentos com maior recuo de 6,8% m/m (nacionais -9,0% e importados -7,7%). Os dados decepcionantes trouxeram menos otimismo para 2020; não obstante, o Ipea manteve sua projeção de crescimento de 6,3% a/a para 2020, tendo em vista os fundamentos positivos para o cenário doméstico.
Impactos do Coronavirus.
Além do movimento de aversão ao risco, permaneceram no radar os potenciais impactos operacionais no setor brasileiro industrial, advindos da (i) parada fabril estendida em função do adiamento da volta do feriado de ano novo Chinês, (ii) um menor volume importado de matéria prima da China, afetando os diversos níveis da cadeia produtiva, além do eventual impacto na demanda, que pode ser postergada, caso a situação não se normalize.
Em nossa visão, a princípio, os reflexos de curto prazo são marginais e devem refletir até certo ponto o 2T20. Neste sentido, as companhias sinalizam que tais impactos produtivos do prolongamento da parada fabril, caso não se estenda, devem ser recuperados ao longo dos próximos meses, ao mesmo tempo, elas possuem matéria prima em estoque ou em trânsito suficiente para atender uma contingência temporária.
Adicionalmente, o possível impacto na demanda, deve ser pouco significativo, dado a pouca exposição das receitas das companhias cobertas pelo BB-BI ao país asiático. Porém mantemos alerta aos desdobramentos, que, caso se agravem, podem trazer impactos mais significativos na cadeia produtiva, em especial pressão de margens vindas da potencial apreciação dos preços dos insumos.
Outlook.
Para fevereiro, apesar dos pilares positivos para 2020 para os setores voltados a econômica doméstica, esperamos um cenário mais neutro para o mercado de ações, mas com maior volatilidade. Nossa visão se baseia nas notícias advindas do cenário externo, em especial, relativas aos (i) acordos da guerra comercial (fase 2A e 2B), (ii) conflitos geopolíticos, (iii) coronavírus, e seus impactos no crescimento econômico global.
No âmbito doméstico, além da temporada de resultados, esperamos pressões positivas oriundas de avanços na agenda governamental, que podem contribuir para maior valorização dos papeis do setor.
Temporada de Resultados
A divulgação dos resultados 4T19 se inicia com Weg (19/02), seguida de Randon e Iochpe (05/03), finalizando com Tupy (11/03).
Confira no anexo a íntegra do relatório a respeito preparado por CATHERINE KISELAR, CNPI, integrante do BB Investimentos