Diário do Mercado na 4ª feira, 08.01.2020
Retaliação iraniana ocorre, mas pronunciamento dos EUA atenua perdas nos principais mercados
Comentário.
Como reflexo dos ataques iranianos contra bases norte-americanas no Iraque, os mercados globais assimilaram perdas durante a madrugada, mas, após o pronunciamento do presidente dos EUA, os agentes recalibraram suas posições, atenuando a aversão global ao risco.
O discurso foi interpretado pelo mercado como menos bélico e conciliador, evocando uma maior responsabilidade da Otan e anunciando novas represálias contra o Irã, mas por via de sanções econômicas.
Como reação, as principais Bolsas se recuperaram, os yields dos títulos do Tesouro norte-americano se elevaram, refletindo um recuo da busca por proteção, e o petróleo devolveu os ganhos dos últimos dias, contribuindo para uma acentuada redução do índice VIX de volatilidade.
No entanto, ainda persistem sinais de cautela no comportamento global do dólar e no maior recurso aos títulos do Tesouro japonês, como mecanismo de segurança.
No ambiente interno, a fala do presidente Trump também influiu positivamente, levando a Bolsa a ensaiar uma recuperação positiva, mas que não se sustentou, enquanto os juros futuros recuaram, também em vista de sinais melhores da inflação divulgados hoje, e o dólar fechou em queda frente ao real.
Ibovespa.
O índice abriu a sessão em alta, por poucos minutos, mas passou o dia em terreno negativo, encerrando o pregão com desvalorização, aos 116.247 pontos (-0,36%), acumulando +4,61% em um mês e +26,31% em 12 meses.
Entre as altas, figuram Braskem, que continua se valorizando, no contexto da regularização de uma área de risco em Alagoas, Suzano, que pode se beneficiar de um recuo na produção de matéria-prima de celulose na Austrália, em função do incêndio, e Gol, após reportar melhoria de dados operacionais.
Frigoríficos também foram favorecidos, pela expectativa de suprir parte dos danos causados pelo incêndio na Austrália, com perdas estimadas em 100 mil cabeças de gado.
Em queda, Petrobrás repercute divergências sobre o comportamento do preço de combustíveis e empresas do setor de saúde refletem dúvidas quanto à atuação do regulador.
O giro financeiro preliminar da Bovespa totalizou R$ 24,3 bilhões.
Capitais Externos na Bolsa B3
No dia 6 de janeiro (último dado disponível), a Bovespa registrou saída líquida de capital estrangeiro no total de R$ 195,333 milhões. Em três dias de pregão, o fluxo líquido de estrangeiros em 2020 se encontra positivo em R$ 257,845 milhões.
Em 2019, a saída líquida total atingiu R$ -44,517 bilhões.
Agenda Econômica.
No Brasil, o IPC-S apresentou desaceleração, fechando em 0,57% (na primeira quadrissemana de janeiro), abaixo do dado anterior (0,77%) e das expectativas (0,70%). Em sua composição, 4 das 8 classes de despesas recuaram, com destaque para Alimentação (seguindo o comportamento dos preços da carne bovina) e Educação. Entre as altas, despontaram Vestuário e Comunicação.
Por outro lado, o IGP-DI registrou alta de 1,74% em dezembro (acima do dado anterior, de 0,85%, e dentro das projeções, em 1,80%) e fechou o ano de 2019 acumulando 7,70%. O segmento de atacado elevou-se 2,34% (IPA-DI), o varejo, 0,77% (IPC-DI) e construção, 0,21% (INCC-DI). O IPP também se elevou em 0,91% em novembro (contra 0,72% do dado anterior), com alta em 15 das 24 atividades pesquisadas, com destaque para a indústria e extrativa e alimentos.
Nos EUA, os dados do emprego privado foram positivos, pela pesquisa ADP, com criação de 202 mil vagas, com ajuste sazonal, bem acima das expectativas (150 mil postos). O crédito ao consumidor também sinalizou aquecimento, com incremento de US$ 12,51 bilhões em novembro (alta anual de 3,61%).
Câmbio e CDS.
O dólar comercial (interbancário) iniciou o dia em alta, mas, após o pronunciamento do presidente Trump, sofreu reversão e fechou o pregão em queda.
A moeda encerrou cotada a R$ 4,0510 (-0,32%), acumulando -2,29% em um mês e +8,99% em 12 meses.
Risco-País
O risco-país medido pelo CDS Brasil de 5 anos recuou discretamente, de 99 para 97 pontos.
Juros.
Os juros futuros recuaram em praticamente toda a extensão, exceto no primeiro vencimento, com volume expressivo. Em relação ao pregão anterior, assim fecharam:
DI janeiro/2021 em 4,46% de 4,48%;
DI janeiro/2022 em 5,17% de 5,22%;
DI janeiro/2023 em 5,72% de 5,76%;
DI janeiro/2025 em 6,42% de 6,43%;
DI janeiro/2027 estável em 6,77%.
Agenda.
Brasil: prévia do IGP-M, IPCA, Produção Industrial, volume do setor de serviços, índice de atividade IBC-Br.
EUA: pedidos de fábrica, dados do emprego payroll.
China: índices IPP e IPC, PIB;
Alemanha: IPC, PIB, Pesquisa do instituto ZEW.
Confira no anexo a íntegra do relatório sobre o comportamento do mercado na 4ª feira, 08.01.2020, elaborado por RENATO ODO, CNPI-P, e HENRIQUE TOMAZ DE AQUINO, CFA, ambos da equipe do BB Investimentos.