Renda Fixa - Mercado de Debêntures
CRA e CRI no Mercado Secundário
Mercado doméstico de renda fixa se mostra menos sensível às tensões globais, renovando movimentos de compra e recorde de volume no secundário de dívida privada
Cenário
Às instabilidades geopolíticas sofridas na semana passada, somam-se novos receios dos agentes, frente aos indicativos de enfraquecimento econômico, primeiramente observados na Alemanha, pressionando toda a Europa, e, mais recentemente, nos EUA, com um inesperado recuo da atividade industrial medida pelo ISM (Instituto para Gestão da Oferta, na sigla em inglês). O índice apresentou contração pelo segundo mês consecutivo e atingiu o menor patamar em 10 anos, ao nível observado no contexto da crise subprime em jun/2009.
Em linha com esta deterioração de expectativas, a estrutura dos títulos do Tesouro norte-americano agravou o perfil da ponta curta e sofreu acentuado recuo em todos os vencimentos, projetando um cenário de estresse, refletido pela inclinação negativa da curva a partir de 3 meses e se estendendo por pelo menos 2 anos.
Paralelamente, o mesmo cenário de cautela acentuou o índice de volatilidade global VIX, mas arrefeceu a força de alta do dólar frente as principais moedas e passa a diminuir sua pressão sobre o real.
Em mão oposta, o cenário doméstico vem se mostrando mais sensível às pautas internas, como o processo de reforma da Previdência, provocando volatilidades, mas também as reiteradas declarações de teor expansionista da autoridade monetária, que têm incentivado mais o segmento da renda fixa privada. De fato, ao tempo em que a Bolsa registra volumes diários abaixo do histórico recente, o secundário de debêntures renova recordes de negociação.
Debêntures no Secundário
O recuo da Selic efetivou a expectativa majoritária de mercado, voltada ao corte de 50 pontos, e, a partir de então, a autoridade monetária vem renovando sinais de caráter expansionista, desde o comunicado do Copom, reforçado pela ata, até o Relatório Trimestral de Inflação, recebido nesta semana pelos agentes com entusiasmo.
Como resultado, as curvas de juros passam a repercutir mais fortemente este cenário dovish de juros e ressoam em proporção significativamente menor o agravamento das tensões globais e as preocupações com o crescimento econômico global.
Ao mesmo tempo, conforme ilustram as curvas de yield e duration, as emissões privadas domésticas oferecem expressivos retornos frente aos seus referenciais DI e NTN-B, apoiados em medidas de risco benignas, seja pelo CDS implícito, seja pelos ratings dos emissores.
Assim sendo, a atual conjunção destes vetores passa a favorecer, de forma pouco comum, os movimentos de compra na renda fixa privada. Isto explica, em grande parte, mais um incremento no volume já recorde de negociação das debêntures no secundário, registrado em agosto (com R$ 15,19 bilhões) e superado em setembro (totalizando o mês com R$ 16,56 bilhões)
Confira no anexo a íntegra do relatório de análise referente ao período de 03.10.2019, preparada por RENATO ODO, CNPI-P 3058, integrante do BB Investimentos