Será o fim das salas comerciais?
*Por Jorge Pacheco
Houve um tempo em que as empresas compravam salas comerciais para estabelecerem seus negócios. Além da segurança em ter o imóvel próprio, era considerado status e passava uma certa credibilidade ter no cartão de visitas "empresa com sede própria".
Depois, muitas empresas começaram a perceber que fazia mais sentido investirem seu dinheiro no desenvolvimento do negócio ao invés de ativos imobiliários, os quais na maioria das vezes não faziam parte do core-business.
No Brasil, a partir dos anos 90, com o aumento da demanda de empresas para alugar salas/conjuntos, houve um boom na construção de prédios comerciais.
Possuir salas comerciais passou a ser do interesse de investidores, pois alugar ou comprar essas salas estava se provando um bom negócio e mais seguro do que deixar o dinheiro no banco e correr o risco de ter o valor "congelado", o que era bastante comum acontecer durante o Governo Collor.
A demanda por salas comerciais diminuiu muito, principalmente pela queda da atividade econômica e as necessidades dos locatários por produtos mais flexíveis com maior valor agregado.
O movimento permitiu o crescimento de novos produtos imobiliários e surgimento de outros, como é o caso dos espaços de coworking, que oferecerem salas/espaços privativos para empresas.
Esse tipo de espaço compartilhado passou a ser uma ótima opção para investidores, pois além do locatário ter maior flexibilidade no contrato de locação, não precisa se preocupar com a gestão dos facilities, reforma, manutenção, etc, visto que o espaço toma conta de tudo, enquanto o locatário pode focar 100% em seu core-business.
De acordo com o Google Trends, nos últimos dez anos as pessoas/empresas passaram a procurar mais por coworkings do que por salas privativas ou escritórios comerciais. Aqui no Brasil essa busca demorou um pouco para acontecer, somente nesse ano que percebemos um grande aumento dessa demanda e ela já vem superando a busca pelas salas comerciais.
Há quem diga que coworking é uma moda passageira. Será que estas pessoas também acreditam que todo o movimento de sharing economy e uma mudança global no perfil de consumo das pessoas também é apenas uma moda passageira?
No caso do mercado imobiliário, se formos comparar as vantagens desses espaços versus trabalhar em uma sala comercial, talvez fique mais claro perceber que o que os coworkings oferecem hoje não é apenas uma moda e esse novo produto tende a se tornar o futuro do mercado imobiliário corporativo.
O valor de ocupação de um coworking é o mesmo de uma sala comercial, embora muitas vezes o custo desta nova opção é menor do que o "all-in" de uma sala comercial, isso porque envolve diversas despesas além do aluguel/condomínio, além dos custos do dia a dia, pois sua inflexibilidade pode gerar novos custos, muitas vezes não previstos.
Fora as vantagens financeiras, facilidades e flexibilidade, o coworking tem um grande diferencial que não é oferecido no mercado: uma comunidade de pessoas que compartilham do mesmo espaço, ideias, inúmeras possibilidades de geração de negócios, relacionamento pessoal e troca de informações do ecossistema.
Esses pontos podem trazer um grande impacto no crescimento do negócio, na satisfação de seus colaboradores e ser ainda mais sensível na hora de contratar novos funcionários, principalmente Millennials, perfil considerado exigente na hora de participar do processo de seleção para uma empresa e que buscam avaliar o ambiente de trabalho e os benefícios oferecidos, antes de aceitar uma proposta.
A migração de salas comerciais para coworkings está acontecendo de forma gradativa em diversos segmentos além de escritórios, incluindo consultórios médicos e dentários, por exemplo, que já estão deixando suas salas habituais e partindo para esses locais.
Apesar das inúmeras vantagens dos espaços compartilhados e mudança no perfil de consumo/demanda, não acredito que as salas comerciais irão acabar, mas sim que elas precisam começar a repensar um pouco sobre o cenário atual, olhar para o mercado e buscar se reinventar, oferecendo maior valor agregado se quiserem continuar com as portas abertas. Caso contrário, boa sorte na briga por preços cada vez mais baixos para alugar quatro paredes fechadas.
*Jorge Pacheco, CEO e fundador da Plug, pioneira na cultura de coworkings no Brasil. Atualmente o espaço possui mais de 600 posições divididas em três unidades, sendo duas em São Paulo, nas regiões de Pinheiros e Brooklin, e uma em Cambridge nos Estados Unidos - além de administrar grandes espaços como o CUBO, em São Paulo