Sobreviventes voltam ao vilarejo destruído por barragens e se emocionam
O garimpeiro João Leôncio Martins, 63 anos, voltou à casa onde morava, no distrito de Bento Rodrigues, Mariana (MG), com uma única missão: encontrar os cachorros que deixou para trás quando fugiu da lama que invadiu o povoado, após o rompimento de duas barragens de detritos de mineração. Na correria, conseguiu salvar três animais, mas Fred e Leisi ficaram no local.
"Gosto de cachorro demais. Cachorro em casa, pra mim, é a mesma coisa que filho. Se eu não achar esses dois, não sei o que vai ser",
contou. João morava com a mulher, a filha e a neta numa casa pequena que quase não permaneceu de pé após a passagem da lama. Ele chegou a tentar pegar um dinheiro e alguns documentos no guarda roupas, mas nada se salvou.
No meio da conversa com jornalistas, a boa notícia: Fred, um dos cachorros do garimpeiro, foi resgatado pelas equipes de busca e levado para Mariana. Um dos bombeiros que atuam no local guardou a foto do bichinho e mostrou a João.
"É ele sim, com certeza. Meu pretinho. Olha o toquinho de rabo dele aqui. É o meu Fred",
contava, emocionado.
É também com lágrimas nos olhos que o comerciante Alair Nicolau da Silva, 50 anos, conta como era a vida no povoado. Entre tios, irmãos e primos, a família somava cerca de 40 pessoas vivendo no local. A casa onde Alair morava não existe mais - foi levada pela lama e pelo barro que desceram das barragens.
"Não consegui buscar nada, porque não existe mais a casa. Ela foi embora. Se essa lama toda tivesse chegado à noite, não tinha ninguém vivo agora. Imagina se os moradores todos estivessem em casa. Como seria?",
pergunta Alair, sem que ninguém saiba responder.
Ao andar pelo local monitorado por homens da equipe de resgate, o comerciante compara Bento Rodrigues a um cenário de filme de terror ou mesmo de guerra. Mesmo diante de tantos prejuízos, ele mostra orgulhoso o crachá de voluntário na ajuda aos desabrigados e desalojados.
"Ajudo a separar roupas, a levar comida e água para quem está precisando e para comunidades isoladas. Só a gente sabe do sofrimento de cada um. Temos uma história de vida aqui. E perdemos tudo”,
lamenta Alair, morador e sobrevivente da catástrofe em Bento Rodrigues.