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Investimentos

20 de Março de 2020 as 04:03:37



FLASH DE MERCADO - Setor Aéreo e o COVID-19 - Março/2020


Flash de Mercado  -   Aéreas
Mayday
 
A pandemia do coronavírus (COVID-19), que teve início na China em meados de dezembro de 2019, tem afetado a economia em escala global; agora, os efeitos deletérios já contagia a economia brasileira, em especial as companhias aéreas Gol, Azul e Latam.
 
Segundo a Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), 73% das empresas aéreas no mundo não detém saldo em caixa suficientes para cobrir nem três meses de custos fixos, e que serão necessários uma ajuda de até U$ 200 bilhões dos governos para suportar a atual crise da indústria aérea. 
 
As medidas sugeridas pela IATA envolvem
 
(i)   a redução da cobrança das tarifas aeroportuárias,
(ii)  isenção de impostos sobre a folha de pagamento,
(iii) flexibilização das normas de exigências de pontualidade e frequência de voos para a manutenção dos slots e
(iv) concessão de empréstimos e garantias de empréstimos às companhias aéreas.
 
Para enfrentar os desafios de combater a disseminação do coronavírus, os EUA fecharam as fronteiras com a União Europeia e com o Canadá para movimentações não essenciais.
 
Entre as medidas de ajuda financeira do governo americano, o presidente Donald Trump pretende cooperar com a fabricante de aviões Boeing, enquanto as companhias aéreas americanas negociam um auxílio financeiro de U$ 50 bilhões que deverão vir de empréstimos, doações e isenção de impostos.
 
A United Airlines cortou em 60% o cronograma de voos em abril, com impacto de redução de 42% nos voos da América do Norte e 85% nos voos internacionais. Na mesma direção, as empresas Delta Airlines e American Airlines anunciaram cortes nos voos e ampliação das licenças não remunerados dos funcionários.
 
O governo Italiano estuada a possibilidade de assumir o controle total da companhia aérea Alitalia, que atualmente passa por crise de insolvência.
 
Em Portugal, a TAP também deverá sofrer intervenções do governo. Vale mencionar que a Azul detém um investimento estratégico em bônus conversíveis de 41,25% de participação econômica, além dos atuais 6,1% de participação na companhia aérea portuguesa.
 
No Brasil, o Congresso Nacional aprovou o pedido encaminhado pelo governo federal para reconhecer Estado de Calamidade Pública, em razão da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.
 
A solicitação de reconhecer Estado de Calamidade permitirá ao governo adotar medidas excepcionais necessárias à racionalização de todos os serviços públicos. Considerando as ações anunciadas nos EUA e Europa, acreditamos que o setor aéreo poderá obter apoio financeiro adicional do governo brasileiro, caso a situação de redução de demanda permaneça ao longo do segundo semestre de 2020.
 
Por ora, as mudanças anunciadas foram apenas pela prorrogação do pagamento das tarifas aeroportuárias que vencem em março, abril e junho, para os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro. O governo vai editar Medida Provisória para regular as regras para o reembolso de passagens aéreas que forem efetuadas até o dia 31 de março de 2020, sendo que o prazo de reembolso será de 12 meses.
 
Em nossa opinião, o setor aéreo precisará de novas medidas de apoio do governo, para que enfrente uma redução de demanda sem precedentes na indústria aérea brasileira.
 
Contextualização: crise aérea no Brasil em função do efeito COVID-19
 
Em 12 de março, a Azul anunciou a redução na oferta de voos internacionais entre 20% a 30%, e manteve seu plano de substituição de E1s por E2s, porém suspendeu novas entregas. A companhia ainda lançou um programa de licença não remunerada, cancelou novas contratações e iniciou negociações com fornecedores para preservar caixa.
 
No dia 16 de março, a Azul atualizou o mercado com mais ajustes de redução na oferta de voos entre 20% a 25% no mês de março, e entre 35% a 50% em abril e meses seguintes; também anunciou medidas para redução de custos, a saber:
 
(a) redução de salário de 25% dos membros do comitê executivo;
(b)  postergação do pagamento referente à participação nos lucros e resultados de 2019;
(c) programa de  licença não remunerada, com 600 pedidos aprovados até o dia 16;
(d)  suspensão de viagens a trabalho e despesas discricionárias;
(e)  estacionamento de aeronaves; e
(f)  suspenção de entregas de novas aeronaves.
 
Informou, ainda, que negocia de forma preventiva novos termos com seus parceiros e também estaria contratando novas linhas de crédito junto às instituições financeiras.
 
No mesmo dia (16), a Gol anunciou suas medidas para enfrentar o impacto do COVID-19, informando que houve significativa queda na demanda em todo o mercado de viagens aéreas no Brasil, por meio do ajuste em sua malha com redução de 50 a 60% no mercado doméstico e de 90 a 95% no mercado internacional. 
 
No dia 17/03, a Gol anunciou a suspensão dos voos para o exterior em função também das restrições impostas pelos países nos quais opera na América do Sul, América Central, Caribe e EUA.
 
A companhia aérea Latam Airlines anunciou o cancelamento de 70% em seus voos devido à pandemia de covid-19. A empresa anunciou a paralisação de 90% das viagens internacionais e 40% dos domésticos, em razão do fechamento de fronteiras de vários países e a subsequente queda na demanda.
 
No dia 18/03, a Voepass Linhas Aéreas anunciou o cancelamento de seus voos em 10 aeroportos de forma preliminar até o dia 22 de março, e provavelmente estenderá a suspensão das operações.
 
Revisão de preço
 
Frente ao cenário desafiador para a indústria aérea brasileira acima exposto, revisamos nossos modelos de avaliação e reduzimos o preço alvo das ações da AZUL de R$ 60,0 para R$ 30,0, da GOL de R$ 44,5 para R$ 20,0, e alteramos nossa recomendação de Outperform para Market Perform.
 
AZUL
 
Histórico recente. Em função da recuperação judicial na Avianca no Brasil, a Azul aumentou sua participação de mercado saindo de 18,8% em 2018 para 24,2% no final do ano. Para isso, ampliou seu quadro de colaboradores em 797 funcionários em 2019 e encerrou o ano com 13.189 funcionários.
 
Adicionalmente, acelerou seu plano de substituição de frota e encerrou o ano com uma frota operacional de 142 aeronaves no final de 2019.
 
Em fevereiro de 2020, a Azul adquiriu uma empresa aérea regional chamada TwoFlex por R$ 123 milhões, que oferece serviço regular de passageiros e cargas para 39 destinos no Brasil, dos quais apenas sete eram atendidos pela Azul. A companhia adquirida contava com uma frota composta por 17 aeronaves Cessna Caravan próprias e um turboélice regional monomotor com capacidade para nove passageiros.
 
No mesmo mês, a Azul anunciou o subarrendamento de 53 aeronaves Embraer E195 E1s para a LOT, uma companhia aérea da Polônia, e da Breeze Aviation Group, uma companhia aérea start-up com sede nos EUA, acelerando sua estratégia de substituir toda a frota doméstica de jatos E1 por aeronaves E2 maiores e de nova geração.
 
 
Endividamento e Liquidez.  A alavancagem financeira da Azul no 4T19 foi de 3,3x dívida Líquida/EBITDA e encerrou o trimestre com R$ 1,6 bilhão em caixa, mais R$ 1,1 bilhão de contas a receber (Antecipação de Cartões) e R$ 1,6 bilhão em depósitos em garantia e reservas de manutenção, totalizando R$ 4,3 bilhões em caixa, sendo o dobro do necessário para cobrir o cronograma dos passivos financeiros que contemplam Empréstimos e Financiamentos, Passivos de Arrendamento, Fornecedores e Transações com derivativos nos próximos 12 meses de R$ 2,2 bilhões.
 
Cenário COVID-19.
 
Analisamos um cenário que considera uma extensão dos efeitos do COVID-19 até setembro deste ano, com queda de receita entre 40% e 50% em 2020. Adequamos os demais itens de despesas de combustível, tarifas aeroportuárias, serviços de tráfego, manutenção e outras despesas operacionais. As receitas líquidas estimadas para 2020 são entre R$ 6,8 bilhões e R$ 5,7 bilhões; margem EBIT entre 6% e 4% (contra 20% das projeções suspensas pela Azul) e prejuízo líquido entre R$ 1,1 bilhão e R$ 1,3 bilhão, sem considerar a variação cambial. 
 
O cenário não considera medidas de apoio do governo, tais como redução de tarifas aeroportuária, impostos sobre a folha de pagamento e tributos sobre as receitas de passagem aéreas; considera também uma redução de 30% a 50% das despesas de salários e benefícios.
 
A Azul tem, em 2020, R$ 98,1 milhões a receber de subarrendamento de 15 aeronaves com a TAP, e R$ 86,6 milhões em 2021 e mais R$ 94,8 milhões após 2021. Em função da situação financeira frágil da companhia aérea portuguesa e, dado a parceria entre Azul e TAP, consideramos que os valores a receber em 2020 podem ser renegociados e prorrogados, com impacto negativo para o fluxo de caixa em 2020.
 
Em 2019, as despesas com as pessoas chave da Administração que incluem os conselheiros, diretores e membros do Comitê Executivo foi de R$ 58,5 milhões, sendo R$ 29,3 milhões em salários e bônus e outros R$ 29,1 em remuneração baseada em ações. A redução de 25% de salário dos membros do comitê pode gerar uma redução de custo de até R$ 7,3 milhões.
 
A Azul tem 13,189 funcionários que geraram uma despesa em 2019 de R$ 1,8 bilhão; consideramos em nossos cenários uma redução de despesa com pessoal entre 30% a 50%, que representaria uma redução de R$ 560 milhões a R$ 934 milhões.
 
Com relação ao preço de combustíveis, a Azul utiliza-se de instrumentos de proteção de volatilidade de preço para uma mudança substancial no mercado. O preço do petróleo caiu mais de 60% em 2020, e os instrumentos financeiros para a proteção da variação do preço do combustível deverá apresentar um impacto negativo superior a R$ 290 milhões nos próximos trimestres.
 
No cenário atual, de queda de demanda, haverá menor consumo físico de combustível em relação ao volume de derivativos contratados que, em nosso cenário, deverá haver impacto negativo no fluxo de caixa da Azul, entre R$ 110 milhões a R$ 150 milhões.
 
GOL
 
Histórico recente.  Diante da saída da Avianca, a Gol ampliou sua participação de mercado de 37,9% em 2018 para 38,6% no final do ano, com adições de 22 novos destinos. O quadro de colaboradores aumentou em 819 pessoas em 2019 e encerrou o ano com 16.113 funcionários. Com relação ao plano de frotas, a Gol foi impactada negativamente pelo atraso das entregas das aeronaves Boeing 737-MAX, no  entanto, a companhia seguiu ampliando sua frota com a adição de 20 aviões Boieng 737-NG, encerrando o ano com 137 aeronaves.
 
Endividamento e Liquidez.  Em 2019, a Gol reduziu seu custo financeiro em função da queda de juros, que contribuiu para um custo médio de 5,3% nas dívidas em reais e 5,9% nas dívidas em dólar, que inclui leasings e financiamentos de aeronaves. A alavancagem da companhia foi de 3,0x. Desconsiderando os bônus perpétuos, a alavancagem no final de 2019 foi de 2,4x, contra 3,2x observado em 2018. A Gol atingiu uma posição de liquidez total de R$ 4,3 bilhões, um acréscimo de R$ 1,3 bilhão em relação a 2018.
 
Cenário COVID-19. Em um cenário que considera uma extensão dos efeitos do COVID-19 até setembro deste ano, acreditamos que a receita deve recuar entre 40% e 50% em 2020. Adequamos os demais itens de despesas de combustível, tarifas aeroportuárias, serviços de tráfego, manutenção e outras despesas operacionais. A receita líquida estimada para 2020 esta entre R$ 6,8 bilhões e R$ 5,7 bilhões; margem EBIT entre 6% e 4% e prejuízo líquido entre R$ 1,5 bilhão e R$ 1,8 bilhão, sem considerar a variação cambial.
 
Os cronogramas de vencimento dos passivos financeiros consolidados da companhia em 31 de dezembro de 2019, para os próximos 12 meses, eram de R$ 2,9 bilhões em empréstimos e financiamentos; R$ 2,3 bilhões em Arrendamentos a pagar; e R$ 1,7 bilhão em fornecedores, totalizando R$ 6,8 bilhões.
 
Durante o exercício findo em 31 de dezembro de 2019, a Gol reconheceu perdas totais de R$ 25 milhões relativos aos derivativos de combustível. A Gol possui contratos de hedge em 68% do seu consumo de combustível estimado para o ano de 2020 e 16,6% para o ano de 2021.
 
O preço do petróleo caiu mais de 60% em 2020, e os instrumentos financeiros para a proteção da variação do preço do combustível deverão apresentar um impacto negativo superior a R$ 700 milhões nos próximos trimestres. No cenário atual, de queda de demanda, haverá menor consumo físico de combustível em relação ao volume de derivativos contratados que, em nosso cenário, deverá impactar negativamente no fluxo de caixa da Gol entre R$ 250 milhões a R$ 340 milhões.
 
A Gol tem mais de 16 mil funcionários, com uma despesa em 2019 de R$ 2,3 bilhões. Consideramos em nosso cenário uma redução de despesa com pessoal entre 30% a 50%, o que representaria uma redução de R$ 0,6 bilhão a R$ 1,1 bilhão em 2020.
 
O cenário não considera medidas de apoio do governo, tais como redução de tarifas aeroportuária, impostos sobre a folha de pagamento e tributos sobre as receitas de passagem aéreas; considera também uma redução de 30% a 50% das despesas de salários e benefícios.
 
Confira no anexo a íntegra do relatório a respeito preparado por RENATO HALLGREN, Analista senior, do BB Investimentos.

Clique aqui para acessar o aquivo PDF

Fonte: RENATO HALLGREN, Analista senior, do BB Investimentos. TRADUÇÃO: Redação JF





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