ALIMENTOS E BEBIDAS - Análise Setorial - Prévia Trimestral
4º Trimestre/2018: um trimestre de resultados mistos
Na próxima semana, a temporada de resultados do 4T18 de empresas de alimentos e bebidas se inicia. Mais uma vez, a valorização do dólar (de R$ 3,25 no 4T17 para R$ 3,81 no 4T18) terá forte impacto na receita de empresas mais expostas ao mercado internacional, como JBS e Marfrig.
No entanto, empresas cujos custos são denominados em dólar devem apresentar pressão de margem substancial, como no caso de M Dias Branco. No mesmo caminho, também esperamos que a indústria de carne suína e de frango enfrente menor rentabilidade, devido aos custos de grãos mais altos a/a.
O setor teve, de fato, um ano de muitas emoções no mercado interno, com o consumo ainda fraco e as empresas passando por profundas reestruturações organizacionais, com algumas melhorias na estrutura de capital no caso da BRF e Marfrig. Assim, segue abaixo nossas estimativas para os resultados do 4T18 para cada empresa separadamente.
AMBEV: Negativo.
Divulgação: 28 de fevereiro, antes da abertura do mercado.
Um cenário ainda difícil para o consumo no Brasil e na Argentina deve continuar impactando o volume de vendas da Ambev. Assim, apesar do aumento de preços implementado ao longo do 3T18, a receita deve atingir R$ 14 bilhões (-6% a/a).
Também negativo, a unidade de não alcoólicos deve continuar a enfrentar um ambiente competitivo acirrado que deve impactar os ganhos de volume e preços, em nossa visão.
Além disso, os custos mais altos já mencionados pela empresa nos resultados do último trimestre também devem empurrar a margem para baixo na unidade.
Adicionalmente, embora esperemos que CAC mostre resultados sólidos, os custos mais elevados relacionados à capacidade ociosa podem continuar a pressionar a margem na região. Portanto, estimamos uma margem EBITDA de 46,6% contra 48,6% no 4T17.
JBS: Neutro.
Divulgação: 28 de fevereiro, antes da abertura do mercado.
A JBS pode apresentar uma pequena redução na rentabilidade em relação ao ano anterior (margem EBITDA de 7,5% no 4T17 para 7,1% no 4T18), em nossas estimativas. Resultados positivos podem vir da carne bovina tanto nos EUA quanto no Brasil.
A JBS USA Beef pode continuar a se beneficiar de uma demanda favorável nos mercados. Por outro lado, o excesso de oferta de frango e carne suína nos EUA continuou a impactar negativamente os resultados da JBS.
Na semana passada, dado este cenário desafiador, a PPC reportou resultados negativos reduzindo a margem EBITDA de 8,8% no 4T17 para 4,2% no 4T18, abaixo da nossa estimativa preliminar de 4,7%.
A Seara, por sua vez, ainda deve ser beneficiada pelo aumento dos preços a/a, embora os custos mais altos possam pressionar a margem. (Estimativas por unidade na página 3) BRF (divulgação: 28 de fevereiro, antes da abertura do mercado): Positivo. A BRF pode seguir a tendência positiva observada no 3T18.
No geral, os preços mais altos no Brasil e a valorização do dólar a/a devem beneficiar da receita líquida, enquanto os custos mais altos podem limitar os ganhos. Nesse contexto, esperamos um desempenho positivo advindo de:
(i) maiores volumes e preços no Brasil; e
(ii) menores volumes no segmento Halal
devido a novas exigências de abate pela Arábia Saudita, em linha com o que ocorreu no último trimestre, reduzindo assim os custos e beneficiando as margens.
No caminho inverso, dada a restrição imposta pela Europa, diminuímos gradualmente os volumes na região (em nosso modelo) tornando-a menos representativa na consolidação.
A Ásia, por sua vez, ainda pode enfrentar um cenário desafiador devido aos impostos antidumping impostos pela China. Considerando tudo, esperamos receita de R$ 9 bilhões (+ 2% a/a) e margem EBITDA de 7,6%, contra 7,2% no 4T17. (Estimativas por unidade na página 4)
M. DIAS BRANCO: Negativo
Divulgação: 11 de março, após o fechamento do mercado
M Dias Branco deve divulgar resultados negativos no 4T18. Biscoitos e massas ainda podem refletir a integração de Piraque e pode haver aumento de volume na comparação anual, enquanto o cenário para farinha de trigo e margarina continuam desafiador, em nossa visão.
Como resultado, e considerando também os aumentos de preços ocorridos no período, esperamos uma receita próxima de R$ 1,6 bilhão, um aumento significativo de 20% a/a.
No entanto, apesar do ajuste de preços bem-sucedido ao longo do ano de 2018, as margens podem ser pressionadas por custos mais altos relacionados ao trigo impactado pela valorização do dólar a/a. Desta forma, estimamos uma margem EBITDA em 12% contra 14,2% no 4T17.
MARFRIG: Neutro.
Divulgação: 27 de março, após o fechamento do mercado.
Seguindo a mesma tendência positiva observada no último trimestre, a Marfrig deve continuar apresentando resultados sólidos.
Em nossa visão, o ciclo favorável do gado nos EUA e no Brasil combinado com uma demanda consistente no mercado doméstico nos EUA, juntamente com os números positivos de exportação de carne bovina no Brasil, deve levar a receita a R$ 10,5 bilhões.
Por outro lado, a desvalorização do dólar (R$ 3,81 médio no 4T vs. R$ 3,95 no 3T18) somado a uma expectativa de mix mais pobre dado o fechamento temporário da planta em Mineiros no trimestre, deve resultar em uma queda de 6% na receita líquida, enquanto a margem EBITDA deve chegar a 8,7%, de 9,7% no 3T18.
É importante mencionar que, como resultado da conclusão da venda da Keystone e do pagamento no 4T18, também esperamos que a alavancagem se aproxime da meta da empresa de 2,5x, o que consideramos uma conquista bem-sucedida, dado o alto nível de alavancagem reportado pelas empresas do setor no 3T18 (alavancagem financeira média foi de 5x).
Confira no anexo a íntegra do relatório a respeito preparado por LUCIANA CARVALHO, Analista Senior do BB Investimentos