Déficit em conta corrente: estabilidade na margem
Julia Gottlieb
economista do ITAÚ BBA
As transações em conta corrente registraram superávit de US$ 620 milhões em abril, abaixo das nossas expectativas (superávit de US$ 900 milhões) e do consenso de mercado (US$ 1,2 bilhões).
O déficit em conta corrente (em 12 meses) continua em patamar baixo ajudado pelo bom desempenho da balança comercial, pelo baixo déficit de aluguel de equipamentos e de lucros e dividendos.
Futuro pouco animador
Para os próximos anos, mantemos a nossa visão de aumento gradual do déficit em conta corrente em linha com alguma retomada da atividade (reduzindo o superávit comercial) e em função do elevado estoque de investimento estrangeiro no país (que deve pressionar a conta de lucros e dividendos), mas sem comprometer a sustentabilidade externa.
Do lado do financiamento, apesar da redução do investimento direto no país nos últimos doze meses, esta continua sendo a principal fonte de financiamento.
Conta Corrente
A conta corrente registrou superávit de US$ 900 milhões em abril, abaixo das nossas expectativas (US$ 900 mi) e do consenso do mercado (US$ 1,2 bi). Acumulado em 12 meses, o déficit em conta corrente avançou para US$ 8,9 bi ou 0,4% do PIB. A média móvel trimestral dessazonalizada e anualizada permaneceu praticamente estável em torno de US$ 5 bi em abril.
A balança comercial apresentou superávit de US$ 5,5 bilhões, abaixo dos US$ 6,7 bi registrados em abril de 2017.
Serviços
O déficit de serviços somou US$ 2,7 bilhões em abril, um pequeno aumento em relação aos US$ 2,5 bi registrados em abril de 2017. Os déficits de transportes e viagens internacionais seguiram avançando (para US$ 534 mi ante US$ 316 mi em abril de 2017 e para US$ 1,0 bi ante US$ 908 mi). O déficit de aluguel de equipamentos, por sua vez, manteve-se praticamente estável (déficit de US$ 1,3 bi ante US$ 1,4 bi). Na comparação mensal com ajuste sazonal, o déficit de serviços recuou pelo quinto mês consecutivo (-3,6%).
A conta de rendas teve déficit de US$ 2,4 bi, uma redução em relação aos US$ 3,2 bi observados no mesmo mês do ano passado. O pagamento de juros somou US$ 1,2 bi (ante US$ 2,3 bi em abril de 2017). O déficit de lucros e dividendos, por sua vez, avançou para US$ 1,2 bi (ante US$ 944 mi). Na comparação mensal, o déficit de rendas recuou 8,3% (com ajuste sazonal).
Investimentos Diretos Estrangeiros
Na conta financeira, o investimento direto no país (IDP) somou US$ 2,6 bi, abaixo das nossas estimativas e do consenso de mercado (ambos em US$ 3 bi). Do IDP total, US$ 2,4 bi veio na forma de participação no capital (93%).
Acumulado em 12 meses, o IDP recuou para US$ 62 bi (3,0% do PIB), um valor menor do que o observado ao longo do último ano, mas segue a principal fonte de financiamento do déficit em conta corrente.
Dados preliminares divulgados pelo Banco Central (até dia 22 de maio) mostram entradas de US$ 1,5 bi.
O investimento estrangeiro no mercado local de capitais foi positivo (entradas de US$ 5,4 bi) depois das fortes saídas de março. Foram registradas entradas de US$ 3,1 bi no mercado local de renda fixa e de US$ 2,3 bi no mercado local de ações.
Acumulado em 12 meses, foram registradas entradas de US$ 6,6 bi para o mercado local de capitais. Dados preliminares divulgados pelo Banco Central (até dia 22 de maio), no entanto, mostram saídas de US$ 2,1 bi do mercado de ações e de US$ 1,4 bi do mercado de renda fixa.
Reservas Internacionais
As reservas internacionais terminaram abril em US$ 380 bi pelo conceito caixa e US$ 382 bi pelo conceito liquidez. A diferença de US$ 2 bi se deve ao posicionamento do Banco Central em linhas com recompra.
O déficit em conta corrente tem se mantido estável em patamar baixo nos últimos meses. Nos próximos meses, o aumento recente do estoque de investimentos estrangeiros no Brasil deve pressionar a conta de lucros e dividendos e a retomada da atividade deve reduzir os superávits comerciais de forma que o déficit em conta corrente deve aumentar na margem.
Estes números mais fracos nos próximos anos não devem prejudicar a sustentabilidade das contas externas. Do lado do financiamento, apesar do recuo, o investimento direto no país segue cobrindo com folga o déficit em conta corrente. Os fluxos de investimento em carteira (renda fixa e ações) seguem mostrando entradas nos últimos doze meses.
Confira no anexo a íntegra do estudo preparado por Julia Gottlieb,
economista do ITAÚ BBA